domingo, 25 de julho de 2010

TRADIÇÃO DE NOSSA SENHORA DAS CANDEIAS


CAPITULO 11º


TRADIÇÃO DE NOSSA SENHORA DAS CANDEIAS

Já descrevemos a avó Joaquina que era a doçura da família, mas quase tudo o que se passa nesta fazenda tem a participação da avó, por isso mesmo vamos falando do que ela ensinava, para além das histórias e das orações que sabia, lindas.

Contava, é verdade, muitas histórias de quando ela era nova, o preço das coisas dessa época, o que as fazia rir imenso: por exemplo, o preço da cama dela quando casou, e outras coisas que até podiam ser inventadas, mas que as divertiam, ela já nem falavam em escudos, era em centavos, e reis.

Uma tradição que nunca esqueceram e que ela lhes ensinou, era no dia de Nossa Senhora das Candeias, dia 2 de Fevereiro, já não se fazia com frequência mas num ano a avó ensinou, e foi fazer com elas.
O encanto daquela noite foi muito bonito e mágico e, durante o dia a avó tinha mandado apanhar nas barreiras, debaixo das aroeiras, uma cesta de cascas de caracóis, ou seja cascas vazias de caracoletas mortas.

Depois, nos preparativos seguintes, ensinou a fazer uma torcida de uma malha de algodão fina, tudo bem torcidinho e dobrado, que iria servir de pavio, e foi colocado um dentro de cada caracol, acabando de se encher as cascas com um pouco de azeite.

Não chovia, a noite estava boa para o que era preciso fazer, já noite escura a avó foi com elas, levou tudo numa cestinha, os fósforos com que foi acendendo cada pavio que estava com a ponta de fora da casca, e elas iam colocando no pé de cada oliveira, viradas com as luzes para o lado da casa.


O olival focou lindo, cada oliveira cada luzinha, perdidas naquela noite escura, elas acharam tão lindo tudo aquilo, enquanto o azeite foi durando. Depois, quando as luzes se iam apagando, uma agora, outra depois, elas iam contando, primeiro as que se apagavam, depois as que restavam, e não queriam ir para casa, tinham de saborear bem até se apagar a última luz do olival.

Nesse dia Julieta sempre tinha a farinha e o azeite para fazer os fritos, diziam que era preciso fritar em azeite para ‘alumiar’ Nossa Senhora, se não se fizesse fritos teriam de fritar neste dia dois de Fevereiro nem que fosse umas fatias ou uns ovos, mas neste ano a Nossa Senhora das Candeias foi iluminada duplamente, e tudo isto para terem a protecção, num bom ano de safra de azeitona.

Todos os anos tinham dois dias de festa seguidos lá em casa, o dia de Nossa Senhora das Candeias e o dia seguinte, o dia três de Fevereiro, que era o dia dos anos de Lisete, não era grande festa mas sempre ficava lembrado de algum modo.

A FESTA DOS ANOS DE LISETE E O CASTIGO
Perdura até a lembrança, um ano houve em que estavam sozinhas com a avó Joaquina, era o dia dos anos da Lisete, estavam a viver com mais dificuldades, então a avó fez uma surpresa para o dia dos seus anos.

Chegava até lá um peixeiro alguns dias por semana, era o Sr. Raul, que vinha das Fontainhas, andava com duas canastas divididas e suspensas por um pau que ele punha ao ombro, uma na frente outra atrás, andava mais de vinte quilómetros para vender o seu peixinho, sempre a pé.

Foi ao Sr. Raul que a avó comprou dois quilos de chicharros, que era baratíssimo na época, e então foi assim a festa dos anos de Lisete. Chicharro com azeite e vinagre para molhar pãozinho até quererem, festa de gente pobre, mas elas é que gostaram muito, do gesto da avó, porque cada um festejava como podia, era preciso que elas sentissem que havia festa, e elas estavam bem felizes com o aniversário da Lisete.
*
Continuando a falar da avó Joaquina, vamos contar outra situação também passada com a Lisete, sobre um castigo que a avó lhe aplicou, e que Dalila também não esqueceu pelo lado negativo, tal como não esqueceu as coisas boas, pois tudo pode marcar, cada momento, cada recordação, sejam negativos ou positivos.

Dalila vinha a chegar da escola com Amália, eram as únicas que já andavam na escola, quando vêm Lisete muito triste a chorar, sentada no caminho antes de chegar a casa, e Dalila perguntou o que ela tinha. Lisete cada vez chorava mais, e foi então que, ao aproximar-se, Dalila viu o que havia sucedido.

Ficou revoltada, triste, furiosa, pela crueldade do castigo aplicado, largou a mala da escola, correu para a Lisete, desatou-lhe as mãos, agarrou-se a ela a chorar, a sua querida mana, que castigo tão bárbaro, a avó tinha-lhe atado as mãos atrás das costas com um cordel, pela maldade que ela tinha feito.

E Lisete tinha rasgado o seu vestido na cintura, separou o corpo da saia, na parte da frente, parecendo ser maldade de criança, mas o castigo da avó de modo algum seria aplicável, era duro demais para a pequenita Lisete, e também para a compreensão de Dalila.
No fim de a acalmar, Dalila foi dizer à avó Joaquina que havia muitas maneiras de castigar, assim não, que nunca mais desse um castigo daqueles às suas irmãs.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPITULO

LIDIA FRADE

MEUS MANDAMENTOS


MEUS MANDAMENTOS

Ser forte, e vencer
Sem olhar, ver mais além!
Ver o nada, ou o ninguém!
Calar mas não esquecer,
Lutar sempre com paixão
Até ao ter!

Poder voar no sonho
Mas os pés em terra firme,
Sempre ter!
Lado a lado
Correr com o tempo
E nunca á fraqueza ceder!

Com força de vida
Ou de sorte
Em cada etapa vencer!
Não deixar passar ao lado
O momento certo
Sem o sentir e ver!

Fixar, o que se quer ter
Conseguir que a luta
Tenha a dimensão do querer!
E, gritar bem alto
Em grito de vitória
Por essa vitória,
Que nos deu prazer!

POEMA DO LIVRO, "AMOR ETERNO, INTERGNO E SILÊNCIO"

quarta-feira, 21 de julho de 2010

IMAGENS DA HISTÓRIA DA FREGUESIA DE ALMOSTER

OLIVEIRA MILENAR, ALI ASSINALADA NO CAMINHO DE SANTA MARIA E, BATALHAS DE ALMOSTER
CANO TRANSPORTADOR DE ÁGUA A PARTIR DE ALVIELA, PARA LISBOA, PASSANDO PELA FREGUESIA DE ALMOSTER, ATRAVESSANDO DESDE O CASAL DO PAÚL, ALMOSTER E CASAL DA CHARNECA.

IGREJA DE SANTA MARIA DE ALMOSTER

AQUI, O MURO QUE, FAZENDO PARTE DA IGREJA, FOI CEMITÉRIO DAS FREIRAS DO CONVENTO DE SANTA MARIA DE ALMOSTER, ALI PERMANECE AINDA UMA CAMPA EM PEDRA, VISIVEL NO CENTRO DO ESPAÇO MURADO.

ESTA A PORTA E FACHADA PRINCIPAL, QUE SE ENCONTRA NO LADO OPOSTO DA NOSSA CHEGADA.

SANTA MARIA DE ALMOSTER PODERÁ SER VISITADA, SEGUINDO PELA ALDEIA DO CASAL DA CHARNECA.

FONTE DE SANTA MARIA, ALMOSTER

Fonte Santa, nestas águas, nesta corrente e caudal, nascido das rochas debaixo da Igreja, outrora se vinham banhar as pessoas com mal de pele, aqui traziam as crianças para fazer a cura das suas feridas, assim se conseguiam tratar, a dar a esta fonte o nome de Fonte Santa, mesmo que o tratamento fosse apenas, a higiene regular, em água pura.
Descrito e transcrito para esta placa na mesma fonte, um texto que pela linguagem se adivinha fazer parte da História escrita do mesmo local.
Aqui se dá o nome de rua, com esta placa, ao local onde teve lugar a Batalha de Almoster, em lutas pelo poder do trono, entre D. Pedro e D. Miguel.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

AS COSTURAS DA AVÓ JOAQUINA

10º CAPITULO AS COSTURAS DA AVÓ JOAQUINA


Essa actividade foi algo que marcou também a vida de Dalila, a avó começou por lhe entregar as calças de cotim - dos trabalhos que fazia para os seus fregueses - para ela cortar as pontas de linhas, e assim passou a participar no trabalho de costura.

A avó era a costureira da terra, tinha os seus clientes certos, trabalhava mais para homens do que para mulheres, isto porque os homens estragavam mais as suas roupas nos trabalhos do campo, roupas que eram sempre as mesmas, usadas durante uma semana, e só lavadas de semana a semana.

Fazia calças e camisas novas ou coletes, quando era arranjos colocava folhas da frente ou meias folhas nas calças, ou folhas inteiras, ainda os fundilhos, as meias costas nas camisas, meias mangas ou colarinhos, muitas vezes eram aproveitadas apenas as fraldas das camisas, que, como andavam por dentro das calças, não estavam por isso expostas tanto ao sol como ao suor, e não estavam queimadas, ressequidas, ou rotas, e assim poupavam uns vinte e cinco centímetros de tecido, o que seria muito importante para quem tinha pouco dinheiro.

As mulheres também mandavam fazer, mas eram mais poupadas nas suas roupas, os tempos eram difíceis e os seus homens é que não podiam andar rotos a trabalhar.
A avó Joaquina ensinava-lhe a cortar as pontas de linhas das calças e coletes dos homens, foi assim que começou a gostar de costura, e Dalila de facto tinha mesmo jeito para tal tarefa, sabe que desde os sete ou oito anos que cosia com uma agulha os trapinhos da avó.

Certa vez a mãe fez uma camisa de riscas e quadrados em azul vermelho e branco para o pai, ela gostava muito do tecido, pediu à mãe para lhe cortar uma saia para a boneca, do resto do tecido, e a mãe cortou uma saia godés.
Ela coseu, fez bainha e cós, e ficou muito vaidosa do seu trabalho, a saia estava linda e pouco tempo depois a sua madrinha, que vivia na Amadora, foi visitá-las - o que era raro por viver na cidade - e Dalila foi logo buscar a saia da boneca, toda contente, para mostrar a sua obra à sua madrinha. Foi a primeira vez que alguém elogiou tanto o seu trabalho, ela ficou muito feliz e vaidosa com esse elogio.

Foram assim coisas lindas e simples que a marcaram, porque nunca esqueceu, assim como recorda que foi também a avó que a ensinou a casear, pois tudo isso era feito por elas, as máquinas desse tempo não faziam casas nas suas obras em tecido, como as de hoje.

COMO TRATAVAM DO GADO
Dos trabalhos que a família lhes mandava fazer, do que ela gostava muito era apanhar folha de cana para os burros e macho comerem. Mandavam, por exemplo, apanhar dez mãos cheias para cada animal, e assim era feito.


Puxavam as canas, começava-se por baixo, a desfolhar, e quando chegava ao fim da cana, tinha uma grande e apertada mão cheia de folhas, dava a volta com uma folha, entalava a ponta, e ficava atada - tudo isso tinha aprendido com a avó ou a mãe.
Depois era só ir contando as mãos, vezes os burros, fazer em molhos grandes, levar para o palheiro, e distribuir pelas manjedouras.

Já as ovelhas, essas comiam folhas de videiras. No fim da vindima, se elas não podiam entrar na vinha por haver alguma sementeira, como favas ou ervilhas que elas destruiriam, apanhava para cestos ou sacas, as parras, e levava para o curral. Era uma época em que ainda não tinham rebentado as ervas, se andavam nas terras pouco tinham de comer, e as parras eram um complemento alimentar do Outono.

Algumas vezes iam guardar as ovelhas e os perus para as terras do Sr. Coronel, onde também iam outros miúdos guardar o seu gado, e enquanto o gado pastava eles brincavam, uma das brincadeiras, para além de andar aos ninhos, era escorregar pela encosta abaixo.
Sentados nas pernadas dos piteirós ou nas folhas grandes das piteiras com os picos cortados, para não se picarem, deslizavam assim, e quando se gastavam tais suportes, por tanto rasparem o chão, arranjava-se mais, o material não faltava.

Prendiam algumas ovelhas mais velhas, para as outras não fugirem para longe, com cordas, nas cabeçadas, ou atando a corda a uma mão, e com uma estaca pregada no chão.
Se as ovelhas estavam prenhas, era normal, em fim do tempo ter mais cuidados, mas algumas vezes elas tinham as crias nas terras. Dalila chegava até a ajudar em alguns partos e, de volta para casa, os filhotes estando ainda muito fraquinhos, tinha de trazê-los ao colo, senão não aguentariam o caminho.

Quando as crias tinham dois dias a avó Joaquina cortava-lhe o rabo, isto às ovelhas, essa era operação que Dalila não gostava, mas se não havia mais ninguém por perto tinha de ser ela a segurar a borreguinha.
Atava-se os pés e mãos com um cordel, o rabo era posto por cima de um cepo de árvore onde se cortava a lenha, e a avó com uma machadita e um golpe certeiro, de uma só vez, cortava-lhe a cauda e lá ficava o bicharoco sem rabo.

Depois era tratado, desinfectado, e a avó punha-lhe cinza da fornalha - dizia que era para proteger - assim a cinza colava na ferida e não deixava que, por exemplo, as moscas pousassem e incomodassem a borreguinha, e repetia-o durante alguns dias até estar sarado.

Dalila achava que a borreguita sofria e, perguntava porque tinham de fazer aquele trabalho, a avó só dizia que era para ser diferente do carneiro, quando fosse grande, e comparava as raparigas, que também lhes furavam as orelhas e colocavam brincos para serem diferentes dos rapazes, e a diferença das ovelhas era o rabo.

A tarefa de guardar os perus era mais complicada, não podiam brincar muito, eles se não encontrassem comida andavam imenso, e se não estivessem atentas quando iam a olhar já não sabiam para onde tinham ido.
GA
As galinhas, os patos, ou os perus, tinham coisas muito especiais e particulares, como quando Julieta ou a avó Joaquina deitavam a postura de ovos para elas chocarem e nascerem as ninhadas, então as galinhas começavam ‘a falar a choco’, como dizia a avó, esse falar a choco era uma ‘voz’ mais grossa, e procuravam ficar aninhadas nos cestos onde punham os ovos, para os chocar.

Ficavam com uma espécie de febre, a avó escolhia os ovos com qualidade, das melhores galinhas, das mais bonitas, e galadas pelo galo bonito que sempre havia na capoeira, pois ela conhecia cada galinha e os ovos que tinham posto, e que nunca eram iguais, por isso a facilidade de escolher as melhores e mais bonitas.

A quantidade normal para uma galinha era de treze ovos, sempre número ímpar, mas a galinha depois não conseguia agasalhar debaixo de si mais que treze pintos, enquanto uma perua já levaria quinze ou mais, dependia do seu tamanho.

Quando havia trovoadas, e trovejava muito forte, a avó punha no cesto das galinhas chocas um ferro velho qualquer, dizia que era para os trovões não estragarem os ovos, senão os pintainhos morriam na casca antes do tempo previsto, as três semanas de incubação para o seu nascimento.
O rebentar do trovão fazia tremer tudo, e fazia mal aos ovos, mas se o ferro resolvia ou não o problema, Dalila não tem a certeza, ou talvez fosse apenas a crença da avó Joaquina.

O nascimento tinha um encanto enorme para Dalila quando chegava a hora ou o dia: eles começavam a picar a casca com o seu biquinho e, pouco a pouco, iam forçando até partirem. Depois, com os movimentos e a força iam tirando a cabeça para fora, ou por vezes eram elas, a avó ou a mãe, que ajudavam puxando para fora.

Se estavam muito tempo para furar a casca a avó dizia que tinham pouca força, então metia um pouco de aguardente na sua boca e depois, como se fosse um borrifador, borrifava os ovos todos dentro do cesto, e voltava a colocar a galinha em cima para os aquecer.

Tudo isto tinha um grande encanto na época para a criança que era Dalila, e gostava mesmo de participar no dia-a-dia familiar, e visto agora, a muita distância, o encanto está ainda todo nessas lindas recordações que guarda no seu coração, desses tempos e maneiras de viver que foram únicos.

Era com frequência também que as vizinhas, quando tinham alguma coelha e não possuíam coelho para as cobrir, irem pedir o coelho, que Julieta emprestava, ou então traziam elas as coelhas, e ficavam ali com o coelho um ou dois dias, e isso por vezes era o mais conveniente, para se resguardarem de doenças.
O mesmo acontecia igualmente com o carneiro da cobrição, que servia muitas vezes as ovelhas das vizinhas.
CONTINUA NO PROXIMO CAPITULO

APENAS MÃE


APENAS MÃE

Nem o mar sem barcos
Se pode achar vazio.
Como eu,
Com os minutos contados
Ou descontados,
Nas horas paradas
Acordadas,
De cada noite fria.

Com as palavras multiplicadas,
Usadas, cansadas ou evitadas,
Mas bem presentes,
No recordar de cada dia.
Por uma estrada estreita,
Por um percurso feito
Por vertentes estonteantes,
Á velocidade que arrepia.

Pela violência da dor,
Sentida, contida,
Pelo grito calado,
Fechado.
Pelas dores de um parto magoado
Ou por ser,

APENAS, MÃE.

sábado, 3 de julho de 2010

FOTOS COM HISTÓRIA, FAZEM PARTE DO CENÁRIO DO LIVRO,"A FAZENDA ONDE VEIO A LUZ AO MUNDO"

A TABERNA DO CABEÇO DE ALMODELIM, OU DO CHAFARIZ


ESTE O CHAFARIZ,CENTENÁRIO, DEU ÁGUA PARA SE CRIAR VÁRIAS GERAÇÕES

O QUE RESTA DA MINHA ESCOLA PRIMÁRIA


AQUI FICOU UM SIMBOLO DA RURALIDADE, NA PORTA DA TABERNA QUE FECHOU