quinta-feira, 7 de julho de 2011

NOVOS TRABALHOS, NOVAS VIDAS

                 FOTO DE CAPA DE PAULO OLIVEIRA


30º  E ULTIMO CAPITULO

NOVOS TRABALHOS, NOVAS VIDAS
Nestes anos - apenas o espaço de cinco anos - muita coisa mudou na vida desta família. As filhas mais velhas já estavam em idade namoradeira, a vida tinha levado novos caminhos e Deodato estava a trabalhar em Gândara dos Olivais, bem perto de Leiria, como encarregado de obras.
Pelos campos da beira-rio, o rio Liz, encontrou uns terrenos bons para cultivo de tomate, pertenciam a uma quinta antiga a que chamavam, os Moinhos do Padre, e que ficava entre pinhais e o rio, no lugar de Barreiros, freguesia de Amor.
Nessa época já Deodato tinha comprado uma camioneta e um tractor, velhos, era verdade, passava os fins de semana com o seu amigo João - que era mecânico - de volta das ditas peças, mas uma coisa ele sabia fazer como ninguém, ora vejamos: agora, que as filhas já estavam crescidas, meter as mulheres da casa - e eram sete - todas a trabalhar para ele, era inevitável. 
Alugou os ditos terrenos, que tinham duas casas já em degradação, e os tais moinhos de água, com casa de habitação, mais ou menos habitáveis, e que eram pois os Moinhos do Padre e que davam nome à quinta. Havia uma casa a cada ponta da quinta, onde se instalaram, e nesse primeiro ano foi na ponta norte, um pouco mais longe de tudo, mas onde lhes pareceu ser a melhor opção.
Opção obviamente tomada por Deodato, já que entendeu começar a cultivar pelo lado norte, começando a lavrar toda essa zona de terreno, não apelava a rancho exterior para o trabalho, tudo era feito em família, e ele, que tinha até o trabalho dele, uma vez chegado a casa ia preparar o terreno para Julieta e as filhas trabalharem no outro dia.
Já estavam habituadas, o trabalho não lhes metia medo, chegavam lá em Abril, para começar, e acabavam em Setembro, altura em que voltavam de novo, para passarem o Inverno, à sua casa na Atalaia.
Mas não era bem o que Dalila queria para ela apesar de gostar de conhecer coisas novas, sítios novos, sair dali da sua terrinha bem pequena, e ali já haver até uma vida de usos e de costumes totalmente diferentes, ser uma terra maior, com fábricas de plástico, onde trabalhava muita gente.
Havia vacas a pastar por todo o lado, que ainda faziam muito trabalho agrícola, e mulheres com canastras à cabeça, a caminho dos terrenos aonde levavam as merendas. Existia ainda uma igreja onde se celebrava missa todos os dias e, no largo da igreja, o arraial onde tocava um conjunto, em geral música de baile, mas onde ninguém dançava por ser na porta da igreja.
O trabalho não parava durante esses seis meses: plantar, sachar, regar e, logo em Agosto, começavam a apanhar o tomate e a levá-lo para a fábrica, pelo menos até Setembro, carradas e mais carradas, quase apanhadas de empreitada.
Não se podia deixar estragar, logo que estivesse maduro, era só encaixotar - nessa época entrava todo em caixas na fábrica - e o rancho caseiro levava dois dias a arranjar uma carrada. Depois Deodato ia levá-lo à fábrica quando chegava, já à noite.
Setembro era o voltar a casa, matar saudades da família e amigas, arranjar trabalho de Inverno, e tudo voltava ao mesmo até regressar a Primavera, em que chegava de novo a hora da partida para Barreiros.
Assim no segundo ano foi só repetir, tudo de novo do mesmo jeito, só com a diferença de que ficaram no moinho de baixo, e assim mais perto dos Barreiros, o que facilitava, para irem às compras até era mais rápido.
Tudo se repetia com a agravante de que a avó Joaquina já estava doente, já não conhecia as pessoas nem já a família, eram precisos mil atenções, com medo de que não se perdesse ela, e depois, nos últimos meses, já ficava deitada, precisava ainda de mais cuidados, mas era inofensiva e calma.
Nesse ano um dado novo andava a fervilhar na cabeça de Dalila: o ano da seara estava a findar e ela já estava decidida a mudar a sua situação de vida, queria casar, e o namorado também. Trabalhavam seis meses para o pai, chegavam ao fim e o pai não lhes dava nada, se casasse trabalhava para ela, e não tinha de aturar o pai.
E foi essa a novidade, acabaram a seara, ela e Julieta ainda foram trabalhar para outras searas, ganhar dinheiro, e com esse dinheiro foram a um armazém de Leiria comprar os cobertores para o enxoval de Dalila, depois, voltaram para a Atalaia.

PREPARATIVOS DE CASAMENTO
Seguidamente voltou ao trabalho da azeitona para ganhar mais algum dinheiro, a fim de comprar mais algumas coisas, ultimar o enxoval, fazer a participação às famílias e fazer os convites pessoalmente, porque os pobres na época não tinham cartões de convite.
Os preparativos já vinham sido feitos desde que se começou a falar em tal: guardaram-se galinhas, havia um porco criado no tomatal, encomendaram-se os ovos para os bolos às vizinhas que os costumavam vender.
Foi ainda preciso fazer na mercearia mais algumas encomendas, de coisas que as cozinheiras diziam ser precisas, já contabilizadas de acordo com os convidados presentes no casamento, isto para os bolos e comidas.
Ali não havia cozinheira contratada, tudo era feito pela família e amigas vizinhas, que se dispunham a ajudar na semana do casamento e em tudo o que lhes fosse possível.
Começavam no início da semana. A primeira coisa a fazer era alguns alqueires de bolos de noivo, eram amassados de véspera, à noite, levavam farinha, açúcar, manteiga, raspa de limão e fermento do pão, ficando a levedar durante uma noite.
Eram tendidos de tamanho a gosto, colocados em latas e tabuleiros de ir ao forno, pincelados com gemas de ovo, cozidos em forno de pão a calor médio, e ao serem retirados colocavam-se em tabuleiros de madeira entre folhas de laranjeira.
De seguida eram feitos os bolos secos variados, que não tinham perigo de se estragar e estariam sempre bons mesmo com alguns dias. Nas vésperas era a altura de fazer fritos, arroz doce, matar a criação e preparar as carnes de acordo com as ementas escolhidas.
Havia um costume na aldeia que era o de a noiva fazer a visita a pessoas que, por não poderem, não estariam no casamento, ou a pessoas por quem se tinha estima e mereciam comer uma oferta da noiva, mesmo sem serem convidados. Essa oferta era composta por um prato de arroz doce enfeitado de canela, ou que poderia até ser feito com amêndoas picadas, ou gemas de ovo, ou até simplesmente branco, e depois levava-se também um bolo de noivo, coscorões e alguns bolos miúdos.
Iam duas ou três raparigas e também a noiva levar os pratos a casa das pessoas, e normalmente as pessoas quando devolviam os pratos estes vinham sempre com uma oferta ou algum dinheiro como prenda.
Os padrinhos de Dalila estavam a viver e a trabalhar em França, mandaram-lhe o dinheiro para comprar o vestido de noiva, e deram também a lingerie, que enviaram de Paris, toda branquinha, muito bonita.
O vestido, ela comprou-o em cetim branco, mais renda branca para fazer um encaixe, de corpo de cintura subida, e mangas, era bonitinho e muito elegante. Dalila era cheiinha, mas não gorda, e não quis com roda por uma questão de economia.
Mas numa coisa ela não poupou: no véu. Levou um véu de seis metros, as luvas e grinalda eram emprestadas, de uma moça rica, filha do padeiro, sua amiga, e que tinha casado também nesse Verão.
Foi a sua mestra e amiga, a Dona Ausenda, onde tinha andado durante três meses a aprender costura, que fez o vestido, e ofereceu assim de prenda o seu trabalho, o que foi muito bom, agradável, e bom de agradecer, também.
Deodato tinha comprado as mobílias para a casa de Dalila - como era aliás costume os pais fazerem - mas algumas coisas não lhe agradavam e, na véspera, ainda ameaçou Julieta que se bem lhe parecesse nem iria acompanhar a filha à Igreja nem estaria no casamento.
A mãe ficou aflita, enervadíssima, com medo de que ele cumprisse a ameaça, mas Dalila nem por isso e com um pouco de rebeldia respondeu à mãe que se ele não fosse, ela não deixaria de se casar, já tinha dezoito anos, as leis tinham mudado e ela já não precisava autorização do pai.
Dalila é que fez todas as roupas para as irmãs vestirem no casamento, e até mesmo o seu fato do segundo dia, um saia e casaco azul escuro e uma blusa rendada em azul claro. Contudo, até na véspera do casamento teve de trabalhar toda a noite para acabar as roupas, mas ficou tudo pronto na hora certa.  
O casamento estava marcado para dia 10 de Dezembro de 1967 às 11h30 no Mosteiro de Almoster e assim aconteceu, um dia feliz, no seu casamento por amor, com o amor da sua juventude.
Mas outra coisa a marcou por esse dia feliz, foi aliás no segundo dia do seu casamento: tinha combinado ir almoçar com a sua família e os seus convidados, os noivos chegaram, um pouco atrasados, e já estavam todos à mesa para almoçarem.
Ao chegarem foram cumprimentar as pessoas e quando Dalila chegou junto do pai, estava ele de lágrimas a correrem pela cara. Dalila também ficou emocionada, nunca pensaria ver um dia o seu pai a chorar, e muito menos por ela ter casado, mas aconteceu, como muitas outras coisas têm de acontecer.    
 
LÍDIA FRADE DO LIVRO( A FAZENDA ONDE VEIO A LUZ AO MUNDO)

2 comentários:

Flor de Jasmim disse...

Lídia querida
Finalmente acabou a minha ansiedade pelo fim da estória de Dalila, amiga existem coisas que me fazem reviver certos episódios da minha vida. Adorei.
Beijinho

Lídia disse...

Minha querida amiga Adélia!!!

Um grande obrigada pelo seu acompanhamento e leitura, cheguei de fato ao fim do meu livrinho. colocado em 28 episódios!!!
Tendo mais de 150 páginas!!!

Se o escrevesse agora ficaria bem mais completo, mas será assim com tudo quando gostaria de chegar a mais perfeição!!!
1 beijo amiga!!!
bom fim de semana!!!
Lídia