segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

DE CABELEIREIRA A COSTUREIRA

FOTO PORTAS DO SOL SANTARÉM

DE CABELEIREIRA A COSTUREIRA


22º capituloEntretanto com o desenrolar dos acontecimentos acabaram com o lugar de frutas e Dalila queria ir aprender a profissão de cabeleireira. A mãe tinha também falado em ir procurar umas conhecidas dela que trabalhavam de modistas, para a pôr lá a aprender.




Mas ela não estava muito pelos ajustes, tinha outras ideias, mesmo não dizendo nada à mãe resolveu ir à luta, um por um percorreu todos os cabeleireiros existentes em Santarém, na época, tal como o Zé Cabeleireiro, a Natália, a Cindina e outros, de quem já nem sabe o nome.


Mas a resposta foi sempre a mesma em todos, “NÃO”, não precisavam de ajudantes ou aprendizas. As primeiras negativas não a fizeram desanimar, já que tinha tido coragem ia até ao fim, mas não conseguiu nada. Mais tarde, apercebeu-se de havia até quem pagasse para aceitarem as raparigas a aprender, só que a mãe não podia pagar.


Restava-lhe mesmo a costura mas, do mal, o menos: até era perto da sua casa, ela morava na frente da Igreja do SS. Milagre e as modistas, que eram duas irmãs, a menina Ausenda e a menina Maria, eram ambas solteiras e já tinham lá outras três raparigas, mas aceitaram ainda como aprendiz a Dalila.


Cerca das nove horas da manhã lá ia ela a correr ou a saltitar, ‘Escadinhas do Milagre’ abaixo, mas esse era o nome que o povo lhe dava, por ficarem a circundar a Igreja, pois o seu nome registado em painel era Escadinhas de Santo Estêvão.


Ao fundo das escadas, mesmo em frente, era a casa das modistas, só a cinco minutos de sua casa, mas ela nem isso apreciava, precisamente por achar que seria mais interessante vir todos os dias de fora e andar de camioneta como as suas colegas.


Ficava até com inveja das colegas, elas contavam-lhe as suas histórias do percurso até Santarém, vinham também os rapazes, falavam de possíveis namoros, conviviam assim com muito mais pessoas, enquanto para ela ali, a viver a dois passos, era sempre tudo igual e não convivia com mais ninguém, apenas com a família.


Tinha também amigos que viviam ali na rua, e que conversavam com ela ou brincavam um pouco também, eram três irmãos ao todo, filhos de um latoeiro, um rapaz era o mais velho, já estava a estudar para advogado, segundo diziam, e havia as duas irmãs, mais novas, e fizeram amizade entre todos.


Quando chegava o dia de feira o pai delas ia com alguma mercadoria para a venda, e elas teriam de o ajudar a levar as coisas, trabalho que detestavam por não gostarem que as vissem como filhas do latoeiro. Então Dalila e Amália ajudavam, pelo menos à mais nova, que não podia levar tudo sozinha.


Vendiam ali também o carvão, a carvoaria era no pátio, e ali pegado estava ainda a oficina do sapateiro, faziam pois parte do comércio antigo de rua. Bem perto existia uma casa que vendia roupa, sapatos e outras coisas em segunda mão para quem não podia comprar novo, e ela ia lá e encontrava sempre alguma coisa a seu jeito.


O NASCIMENTO DA QUINTA MANA


Chegou a hora da Julieta dar à luz, tinha passado a gravidez sem ser vista uma única vez por um médico. No entanto, quando chegou a hora, ela como já era experiente - era já a sua quinta criança - sentiu isso mesmo e foi para o hospital, mais uma menina, que nasceu bem e sem problemas.


Deodato andava por perto, na altura, mas quando lhe perguntaram se ia ao hospital disse que não, que não iria lá fazer nada, e decerto que seria outra rapariga, e assim o fez. Quem foi ver Julieta ao Hospital foi Dalila e a vizinha, que iria ser a madrinha da menina, que já tinha entretanto nascido.


Como não havia nem ecografias nem telemóveis, ninguém sabia ainda que era uma menina e tinha já nascido, e ali estava ela pois, pequenina, indefesa, mas com muita gente para cuidar dela.


Nasceu precisamente no dia em que Julieta fez trinta e cinco anos, no dia trinta e um de Março, e já com cinco filhas, fora os que conseguiu, de alguma maneira, desenvencilhar-se e evitar que viessem ao Mundo.


Mas aquela foi bem recebida por todas as irmãs, pela avó Joaquina, com muita apreensão por ter a noção das dificuldades da vida que atravessavam, e por Deodato com grande indiferença, era apenas mais uma preocupação.


A vida continuava, a menina chamava-se Gabriela, nome da madrinha, como a madrinha era muito religiosa, falou com o padre e, baptizaram logo a menina, ia também ajudando com o que podia, em termos de alimentação principalmente.


Uma panela de sopa, pelo menos, havia sempre, levada por Gabriela - a madrinha - e Julieta mandava também amiúde Dalila à praça de Santarém. Por exemplo, iria a um talho qualquer, comprar um pedaço de gordura da vaca, que os homens por vezes até lhe davam, ou uns ossos de vaca com tutano, pois isto e mais alguns legumes e um pacote de massa, fazia assim uma grande panela de sopa. Gabriela também ia sempre levar um saco de pão quando vinha do trabalho.
*
Era uma altura em que já havia alguns movimentos políticos estudantis, corria o ano de 1962. Pela calada da noite, segundo se falava, os estudantes universitários andavam espalhando panfletos pelas ruas da cidade.


Pela manhã, quando começavam as pessoas a circular, a sair de casa para os trabalhos, para as escolas, lá estavam os panfletos criticando o governo, tentando alertar ou aliar o povo pacato para a revolta.


Demorou alguns anos, mas muitos foram presos pelo caminho e, dizia-se, que filhos de Doutores da cidade também passaram por isso. Dalila era avisada, assim como as irmãs, para não apanharem nenhum papel nem os levarem para casa, pelo perigo que podiam causar.


NA ÉPOCA DE PRAIA


Chegou Julho, e Deodato, sempre com invenções e novidades, arranjou uma máquina de fazer pipocas, daquelas que se vendiam nas feiras, mas resolveu ir pôr Julieta na Praia de S. Martinho do Porto, para ela fazer e vender as pipocas lá na praia.


Julieta nunca tinha trabalhado com aquele tipo de coisas, nem nunca tinha sido feirante, mas posto que o seu marido mandava e ela obedecia, sendo assim, partiu com ele e as duas filhas mais novas, Graciete e Gabriela.


Lá foram rumo à praia. Chegados lá, escolheu ele um lugar para colocar a máquina, numa saída da praia a sul, e do mesmo jeito armou uma tenda feita de panos e ripas, próximo de outra bem maior que estava num terreno baldio, ali nas dunas, junto da praia, isto para elas dormirem, porque o dia era sempre passado ao ar livre.


Foi assim simplesmente: uma mulher com trinta e cinco anos e as duas filhas, uma de seis anos, a outra bebé de três meses, ali ficaram sem condições nenhumas, entregues a si próprias, e a fazerem pipocas para tentar vender - era o seu trabalho para poder comer e dar de comer às filhas.


Deodato voltou para Lisboa para trabalhar mas, passadas umas semanas, regressou a Santarém, onde tinham ficado a avó Joaquina, Dalila, Amália e Lisete, entregues também a si próprias.


Disse a Dalila para arranjar umas coisas para mandar à mãe, e sentenciou ainda que a Lisete ia lá ter com a mãe. Iria na camioneta da garagem dos Claras, que seguia para a Nazaré. Essa camioneta passava em S. Martinho do Porto, e a mãe iria lá buscá-la, à paragem.


Dalila tinha feito já três meses que estava na costura, as suas mestras iam de férias para a praia da Foz do Arelho mas, antes, fizeram as contas dos ordenados das suas ajudantes. Contas feitas pagaram-lhes, e foi o primeiro dinheiro que Dalila recebeu por um trabalho. Era pouco, apenas vinte cinco tostões por dia, de ordenado, mas aquilo era muito importante e, principalmente, um incentivo para a aprendizagem.


Dalila falou com a avó, sabia que o dinheiro era preciso para muita coisa, mas entendeu ser importante, primeiro que mais nada, comprar umas sandálias de plástico vermelhas para elas calçarem, elas estavam sem sapatos, era uma urgência.


Sabia onde estavam as sandálias que queria e poderia comprar, e levou Lisete a essa sapataria, ela escolheu as sandálias, vermelhinhas e bem bonitas, e compraram outras iguais para a Graciete, que já estava na praia com a mãe.


De caminho foi a uma casa de louças, aí compraram um copo de vidro, grande, com flores, e foi leva-lo à sua mestra, que ficou surpreendida, mas Dalila disse-lhe que era para pagar o copo que lhe havia partido, tinha acontecido sem querer, mas tinha ouvido um grande raspanete.


Assim, nessa altura, muito envergonhada e também magoada, prometera a si mesma que quando tivesse dinheiro iria pagar aquele copo, e se bem pensou, melhor o fez, a dívida dela também estava paga com o seu dinheiro.


Quando o pai voltou a casa, para levar a Lisete à garagem para ir ter com a mãe, Dalila disse-lhe que tinha recebido aquele dinheiro e tinha comprado as sandálias para as irmãs que não tinham calçado.


Mas ele respondeu-lhe muito secamente que na praia não precisavam de sapatos, e Dalila, que achava ter feito uma boa acção, e digna de reconhecimento, ficou magoada com a resposta do pai, mas sabia que a mãe iria ficar contente com a sua decisão.

CONTINUA NO PROXIMO CAPITULO     LÍDIA FRADE

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

DIFERENTE


DIFERENTE



Se ser normal


É apenas,


Aquilo que os outros querem,


Aquilo que os outros são?


_Eu, não!


É ser genial submissa,


A ideias de padrão?


_Eu, não!


De que me serve


Ficar desse lado,


Do lado,


Que acham normal ser gente?


Se esse lado me dói,


Me destrói,


Me aniquila, tão-somente.


Deixando de gostar de mim


Para ser apenas,


Dominada, normalmente.


_Assim não!!!


Eu, sou apenas diferente.


LÍDIA FRADE

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A CORDA


A CORDA



Que na vida, é um fio


É um elástico, ou um cabo


Imaginário.


Que se estica,


Para chegar aqui, ou além


Que se ata e desata também.


Que se puxa,


Sem parar, ou pensar,


Que um dia, poderá ter um fim


E que será sempre igual


Para ti, ou para mim.


A CORDA


É a linha, ou o destino


Que tem um inicio,


Que é amarra


Quando se dá um nó


De corrida


Que se ata, e desata


Que se tece, torce, e contorce,


Que enrijece, e amolece


Que desfia, e afia,


De fio pavio,


Até que nos prende


Á vida, por um fio.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

NO LARGO DO MILAGRE

DO LIVRO A FAZENDA ONDE VEIO A LUZ AO MUNDO
22º capitulo

NO LARGO DO MILAGRE



Irem viver para Santarém, era ideia de Deodato, o pai de Dalila. Primeiro, tinha arrendado ali, na rua Miguel Bombarda, uma pequena loja onde montou um lugar de frutas e hortaliças, e tudo isso foi imaginado e feito na pior altura.


Deodato já tinha vendido a fazenda do avô Zé, lá é que poderiam criar muita coisa para vender ali no lugar, mas, agora, que não tinham mais fazenda? Como era? Quando tinham de comprar para voltar a vender? Mas… era ele que mandava, à família só cabia obedecer.


Quando até já tinha vendido a outra casa que tinha comprado no Cabeço de Almodelim, tinha acabado com a taberna do Chafariz, que era alugada mas vendia lá o vinho que produziam, vendeu tudo agora e levou a família para Santarém.


Ali estavam elas, tinham conseguido arrendar uma casa para viver, mesmo defronte da Igreja do SS. Milagre, eram umas águas-furtadas mas era uma belíssima casa, com quartos para todos, sala, e uma grande cozinha. Tinha ainda uma porta que abria para uma espécie de varanda, sem a ter, que apenas tinha um muro alto na frente, que servia de parapeito, para se debruçarem e verem o movimento da rua.


Dalila gostava de estar lá, quando era Verão, mesmo depois do jantar, muitas pessoas andavam a passear na rua, iam para o centro da cidade ver as montras, e dali observava tudo sem a verem a ela.


Julieta na época já estava grávida da que viria a ser a sua quinta filha e isto causava admiração, já não eram muitos os casais que teriam um tão grande número de filhos, e principalmente porque os recursos eram muito poucos, estavam numa época péssima da sua vida o que tornava tudo pior, com um pai, assim, de cinco filhos, um pouco irresponsável pela sua sobrevivência.


Julieta bem tinha feito de tudo para acabar com aquela gravidez, mas não muito para a evitar, dado a evidência do facto e, se não tivera dinheiro para comprar um ‘anti’, muito menos teria para um ‘após’, e daí uma gravidez inesperada, ou até um pouco indesejada.


Depois de tomar tudo e mais alguma coisa que teria ao seu alcance, desde mesinhas caseiras, e sem resultado, uma vizinha deu-lhe o nome de uns comprimidos que seriam feitos na farmácia. Embrulharam num papel, o que parecia ser um comprimido, mas que seriam apenas algumas substâncias envolvidas num tipo de película de que se faziam as hóstias, e entregaram assim o papel a Dalila, e mandaram-na ir à farmácia comprar o medicamento para a gripe.


Dalila entregou o papel ao farmacêutico, que lhe perguntou ‘para que queres este medicamento menina?’, ao que ela respondeu ‘que era para a mãe, que estava com gripe’, dizendo o homem que não tinha, mas que fosse lá a mãe falar com ele.


Mas ela não foi, e dinheiro para ir a uma parteira não tinha, a barriga foi crescendo, e a mesma amiga ofereceu-se para madrinha.


Dalila foi colocada a vender na loja e, para a idade dela, até dava bem conta do recado. Um dia foi lá uma cliente procurar limões, chega e pergunta: ‘óh menina, tem limões?’ E Dalila responde, ‘há mas são verdes!’


Dalila achou que devia informar a cliente antes de ela ver os limões, mas a cliente saiu porta fora, nem olhou para os limões, Dalila ficou a olhar a cliente, sem entender se teria ficado ofendida com a resposta ou, por outro lado, não lhe interessava comprar limões verdes.


Mas ela tinha apenas doze anos, podia não conseguir fazer tudo bem, já foi lá em Santarém que completaria os treze, e esse dia de aniversário foi de facto diferente, esse ano nunca o esqueceu, o dia dos seus anos, não pelo dia da festa, que não lhe fizeram festa, mas por um acontecimento com o pai.


DIA DE ANIVERSÁRIO


Deodato tinha uma moto grande, já não tinha carroça, já não tinha mota pequena, mas tinha uma mota enorme para a qual era preciso uma carta de condução para a poder conduzir, e isso era coisa que ele não tinha, no entanto andava a passear-se nela para todo o lado e por vezes levava Julieta também.


Como seria normal, a polícia desde que soube o que se passava andava sempre a ver se o conseguia apanhar e multar ou, até, levá-lo preso!... Um dia isso foi inevitável, levaram-no para o Governo Civil, e ficou preso, precisamente no dia dos anos de Dalila.


Foi lá ao lugar de frutas um polícia à paisana, falar com Julieta. Depois do agente se ir embora Julieta disse para Dalila que o dia do seu aniversário, dia treze de Janeiro, dia em que fazia treze anos, portanto, ‘casava os anos’, era um dia na crença do povo em que se poderia ter uma grande alegria ou uma grande tristeza, e ali estava a desgraça, para tristeza, o pai havia sido detido.


Julieta foi para o Governo Civil falar com o marido, foi saber o que poderia fazer, para ele sair dali, mas a solução era pagar as multas, e era preciso dinheiro que eles não tinham.


Deodato disse a Julieta para ir falar com alguém amigo, dos conhecimentos dele, para emprestar o dinheiro, Dalila não sabe a quem. Mas até poderia ser a tal amante de Deodato que morava no Galo, perto de Santarém.


Logo, se ele mandasse, Julieta iria mesmo, ela faria tudo por ele e para o tirar dali, até ir procurar aquela mulher que lhe ajudava a estragar a vida. E de facto, no dia seguinte, conseguiram pagar, e fizeram com que ele saísse da cadeia.


Deodato, como já era costume, voltou a ir trabalhar para longe, normalmente para perto de Lisboa, nas obras, mas a família continuava a viver em Santarém, e Julieta, com uma barriga enorme, quase no final de gravidez, já pouco podia trabalhar.


Continua no proximo capitulo

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

AMOR SEM TEMPO

POEMA PARA TODOS OS NAMORADOS!!!!!
AMOR SEM TEMPO



Não há tempo para amar


Nem até hoje se inventou


Relógio que marque a hora


Para o amor começar,


Desse tempo só existe


Um tempo de formação


Que eu não sei onde começa


E ninguém sabe onde acaba


Porque é espaço de magia


E de leve sintonia


De dois seres em construção.




Não há tempo, nem há hora


De dizer o verbo amar,


O amor é como o mar


Maré cheia


Maré vazia


Onda grande, onda pequena


Ontem forte, hoje serena


Mas sempre batendo na areia


Em leve beijo a enrolar


Mas ninguém sabe onde acaba


Tal como a força do mar.


Do lívro AMOR ETERNO Interregno e Silêncio de Lídia Frade

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

MARIANA ESPREITANDO NAS ORQUIDIAS

A MINHA NETA MARIANA
MARIANA ESPREITANDO NAS ORQUIDIAS, FOTO LY

CARTAXO CASAS ESPECIAIS

CARTAXO FOTO PAULO
CASA ESPECIAL CARTAXO
FOTO LY
BEIRAL DA CASA DO PRIMO ZÉ SILVESTRE, COM O SEU ARROZ DE GATO SUSPENSO
O MESMO ARROZ DE GATO SUSPENSO, O MESMO BEIRAL
 ATALAIA ALMOSTER

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ARCO-IRIS


FOTO ROTUNDO DA AV. GENERAL GOMES DA COSTA, LISBOA, FOTO LY


ARCO-IRIS VISTO SOBRE O ISEL AV. AUGUSTO DE CASTRO, LISBOA, FOTO LY