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domingo, 25 de novembro de 2012

A CADELA NÃO PODE COM TANTOS CACHORRINHOS


CRÓNICA

A CADELA NÃO PODE COM TANTOS CACHORRINHOS

Aprendi com a minha avó!
Quando algo estava a ser pesado demais, na vida de uma pessoa, ou dela própria, a minha avó dizia:
“ A cadela não pode com tantos cachorrinhos”
É mesmo verdade, nestes tempos que se vivem.

Uns tempos atrás, conversando eu sobre, todas as minhas despesas alargadas demais já, para a minha normalidade, larguei esta sem pensar:
“ A cadela não pode com tantos cães!

O meu interlocutor que era o meu Paulo, achou graça á frase, nunca tinha escutado tal coisa, eu expliquei que era um dito que ouvia á minha avó, Joaquina, ele por sua vez, aconselhou-me a escrever e guardar, estas frases engraçadas, para que não me esqueça de utilizar em algo que escreva, e tudo ficou por ai.

Passaram uns dias e, chegou a minha terça-feira, dia da minha folga, dia de estar pelo Ribatejo com a minha mãe.
Estávamos á mesa a almoçar os três, e eu fiz uso de novo, falando das despesas, da mesma frase.
“ A cadela não pode com tantos cães!

A minha mãe escutou e sem fazer comentários sobre o meu engano, e já fazendo parte da conversa, rematou ela,
Sendo assim é verdade:” A cadela não pode com tantos cachorrinhos”

Foi então, que eu caí em mim, como diria a minha avó!
E não admira, quarenta e cinco anos, depois de minha avó morrer, e de eu estar um pouco afastada das conversas provincianas, faz alguns anos, fugiu-me o verdadeiro rumo da frase.

Mas tenho ainda a minha mãe, que nos seus oitenta e seis anos, continua com uma clareza mental de me dar inveja, e me vai lembrando os ditados e muito mais, para eu colocar as peças do meu pazle de lembranças, no devido lugar.
E já não vou esquecer!!!

Difícil é, nos dias de hoje, alimentar tantos cachorros, mamões e esfomeados.

Texto de

LÍDIA FRADE

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A VACINA DO LUÍS




A VACINA

Era Março, quase a chegar a Pascoa que nesse ano era muito cedo, já que se vinha de um carnaval muito precoce ou seja quase no início de Fevereiro, e sendo assim a Pascoa seria quarenta dias depois.

Margarida tinha sido mãe do seu terceiro filho o Romeu, havia poucos dias, Luís o mais velho, já tinha dez anos, pelo meio tinha nascido uma menina a Constança, que, tinha feito dois aninhos precisamente um mês atrás.

Margarida tinha de levar o Romeu ao Posto Medico para fazer a sua primeira vacina, sendo assim verificou o livro de saúde dos mais velhos para se certificar de que estariam em ordem, detectou no entanto que, também não estavam completas, e resolveu levar os três, para fazerem as actualizações necessárias.

Primeiro foi o recém-nascido o Romeu, como não tinha ainda consciência do que era levar uma vacina, não fazia ainda reclamações, e assim foi colocado meio envolto nos seus agasalhos, ageitadinho para levar a pica, sem grande manifestação.

Seguidamente seria Luís, seria!... E queria a mãe que ele levasse a vacina que lhe faltava, mas o Luís era uma criança um pouco difícil de se convencer, para não dizer muito, e ele com dez anos já sabia que a pica doía um pouco, mas ali estava mais patente a teimosia do que o medo, pois já tinha saído de casa a reclamar, e contrariado, porque não queria levar vacina.

Bom mas chegada a hora, a mãe obrigou-o a entrar no gabinete, agarrou-o, a enfermeira preparou a vacina, mas quando ia para espetar a dita agulhita, ele atirou-se ao chão, esperneou, pontapeou, berrou, foi o rececionista ajudar, fingiu-se desmaiado, a enfermeira pensou que o caso era a serio foi chamar o médico.

Foi ai que ele viu que a coisa estava séria, não conseguia enganar o médico, pensou e agiu, quando resolver levantar-se e sair do gabinete, mostrando-se ainda vencedor, por ter enganado todos,  sem no entanto ter levado a vacina.

Com estas cenas todas, a mãe ficou envergonhada, pediu desculpas e desistiu, era isso que ele esperava que a mãe fizesse, desistisse pela saturação e aconteceu, mas com a sentença, de que viria o pai com ele.
Margarida regressou a casa com os filhos, contou ao marido, o que Luís tinha feito, e a vergonha que a tinha feito passar, o pai pega no carro fez-se acompanhar de novo por ele e voltam ao Centro Medico.

Claro que ainda tentou fazer birrinha e envergonhar o pai, que rapidamente resolveu o assunto, Luís levou mesmo a vacina, e mais, o pai fê-lo pedir desculpas às pessoas por se ter portado mal, e tentar engana-los a todos, então não lhe tendo o pai deixado outra opção, ele pediu desculpas.

Margarida logo que falou com a mãe, contou-lhe o que Luís tinha feito, ainda estava envergonhada.
A avó de Luís, depois de ter falado com a filha, e ter ficado admirada da sua ousadia teatralizada, de repente lembrou-se.

De uma das últimas vezes que lá tinha estado em casa, tinha falado com Luís sobre as suas atividades de tempos livres, ou após escolares, onde tinham escrito uma peça teatral á sua escolha, em trabalhos de grupos, da qual ele tinha feito parte com mais dois ou três colegas, essa peça teria de ser representada por eles, o grupo que escreveu, e depois seria avaliada pelas professoras.

A peça que eles escreveram era sobre, um médico dentista, um paciente, e assistentes, ali mesmo em frente da avó, sentada com eles na sala, ele tinha representado dentro do possível, pois sozinho tinha de explicar, ou fazer parte das falas dos colegas, mas, a avó lembrava bem, o papel dele na peça, era o paciente.

Assim sendo, ele paciente, tinha medo das agulhas, e de todos os outros utensílios do médico dentista, com os outros assistentes a segura-lo, conseguiu escapar-se da cadeira, escorregou para o chão, os outros tentavam agarra-lo, ele debatia-se, gritava, rebolava-se no chão, criando uma cena de recusa e cansaço até á desistência.

Assim dito por ele, Luís, ganharam o primeiro lugar na representação desse trabalho de grupo, graças á representação dele.

Ai estava e explicação, os pais não sabiam, mas ele tinha representado, ali no Posto Medico, a sua personagem, a sua peça teatral, para ver como funcionava ao natural de verdade, mas, apesar da sua belíssima representação, onde até conseguiu simular um desmaio, só conseguiu deixar os pais envergonhados, e teve de lavar mesmo, a sua vacina!!!

Lídia Frade

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O HOMEM DA PERNA DE PAU


CONTO




O HOMEM DA PERNA DE PAU



Quando eu era criança, a minha avó Joaquina, era a única pessoa que me contava histórias, umas graciosas e poeticamente lindas, outras porem um pouco duras ou macabras.

Depois tinha também o hábito de, meter-nos medo com o Policia, se ia-mos há cidade, com o G N R, única segurança que aparecia pela província, de quando em vez, só para verificarem se andava tudo em ordem, e que saiam sempre a pé, em patrulha, ao longo de muitos quilómetros.

Havia ainda o bicho papão, que levava e comia as meninas, e que elas nunca mais viam a mãe ou a avó, depois ainda tinham as mouras que estavam dentro de uma mina, ou uma gruta, e quando as meninas lá iam espreitar, puxavam-nas lá para dentro do dito buraco, e pronto lá ficavam para sempre, sem verem mais as famílias, até que lá morriam.

E já agora, vou falar de um personagem, para mim estranho, e até repugnante, que existia mesmo, e que eu via também algumas vezes, e que tinha um medo horrendo, trazia sempre um chapéu feio na cabeça, umas roupas andrajosas, e no seu andar cambaleante, batia com o pau da sua perna sem pé no chão, onde a chamada ferragem ou ferro que protegia o pau, ao bater fazia um barulho estranho, era “o homem da perna de pau a andar” a avó Joaquina dizia que tinha perdido a perna, na Segunda Guerra Mundial.

Como eu tinha medo dele, volta que vira, era a minha ameaça, que se eu não me portasse bem, o dito homem vinha-me roubar e me levava. Com o passar dos anos eu perdi o medo, e também o homem desapareceu, deixei de o ver, devia ter morrido.

Agora há duas noites atrás, o “homem da perna de pau” voltou, é verdade voltou de novo!

Pode ter passado mais de meio século, mas ele existia cá dentro, no meu subconsciente, e na madrugada, tendo já descansado o corpo, do cansaço do dia anterior, vi a minha pessoa, ou o meu corpo, numa grande sala de espera, talvez de uma estação de comboios, ou teria talvez a mesma configuração, desses espaços que conheço.

Eu, estava sentada num banco corrido, mas levantei-me para seguir para algum lado, de repente senti-me preza, alguém me agarrou, não me deixava sair dali, debati-me com muita força, gritei aflita sem conseguir libertar-me, nessa luta, já tinha então reconhecido, quem me prendia!

Acordei, porque alguém me acordou, mesmo a dormir estava a manifestar a minha agitação, a minha aflição, estava a falar para o outro mundo!

ERA O HOMEM DA PERNA DE PAU! O mesmo de quando eu era menina e pequenina.



LÍDIA FRADE



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

CAPITULO 11º CONTO DE NATAL!!!


CONTO DE NATAL


Julieta tinha uma tia a viver em Lisboa, era a tia Júlia, irmã do avô Zé, todos pensava que era a tia rica da família, no sentido contrário, estava ela, Julieta e a sua família, sendo a mais pobre.
Quando em algumas situações difíceis de resolver, era a essa tia que recorriam, pedindo alguma coisa, para superar assim as sua aflições, pelo menos em tempos já passados.
Mas naquele ano não era esse o caso, elas tinham uma casa pequena e pobre mas, tinham também um grande pomar de laranjeiras, e tangerineiras, Julieta lembrou-se de ir mandar uma alcofa de hortaliças, laranjas, e tangerinas á tia Júlia, porque tinha fartura.

Ao lembrar-se desse agrado, fazia também lembrar que continuava ali, e com cinco filhas para criar, escreveu a carta de Natal desejando Boas Festas, e dizendo para irem levantar a alcofa á garagem do Claras.
Como a tia Júlia era uma senhora viúva, havia largos anos que vivia sozinha, o seu filho vivia longe dela, e ao agradecer a lembrança lembrou isso também, as coisas que seriam demais para ela, não deixando de mandar na carta 3oo escudos para Julieta comprar roupas para as miúdas.
E com certeza também, encontrou com quem dividir as frutas e hortaliças, com alguém que comesse mais do que ela, e assim continuava a fazer outra boa acção, do outro lado com espírito de Natal.
Com os 300 escudos, Dalila e a mãe, foram a Santarém compramos tecidos e lãs de várias corres, com aquele dinheiro já compravam muita coisa, elas quando trabalhavam só ganhavam dezoito escudos por dia, chegava para comer mas para comprar roupas já era mais difícil.

PREPARAÇÃO DO NATAL


Dalila já ia fazer em Janeiro catorze anos, já tinha andado uns meses a aprender costura, para além do que já tinha aprendido com a avó Joaquina que tinha sido costureira na aldeia.
Mas a avó naquela altura já só fazia alguma coisa para casa, e as rendas para todos os lençóis, mesmo com carrinhos de linhas da costura, porque era da mais barata, e era uma maneira de estar entretida.


Julieta também sabia de costura, e todas sabiam tricotar para fazerem os casacos e camisolas novas, assim como as saias, e vestidos, com os tecidos comprados, estavam todas felizes por irem fazer roupas novas.
Os casacos foram escolhidos os modelos muito simples, eram tricotados á mão com dois fios de lã, de duas cores diferentes mas trabalhadas juntas, faziam assim um efeito de trabalho mesclado muito engraçado, os vestidos ou saias para as irmãs mais pequenas eram rodados, com franzidos, pregas, ou machos.
Mas para Dalila, como já se considerava uma grande mulher, e já tinha os seus pretendentes a namorados, já ia ao baile, e já tinha pares para dançar toda a noite, resolveu fazer uma saia justa, de fazenda rosa velho, fez uma camisola em amarelo-torrado, toda tricotada por ela, para vestir com essa saia.


Tinham de trabalhar rapidamente, o Natal estava há porta, como se costumava dizer na aldeia, o que significava faltar poucos dias, o tempo estava péssimo, muito frio, muito nevoeiro serrado, mas era o tempo de apanhar a azeitona, e não podia deixar-se estragar, fosse qual fosse o tempo, o trabalho continuava, se chovesse a potes é que iam para casa, já todas molhadas, como os pintainhos desabrigados.


Por isso o tempo para as costuras, ou malhas era reduzido, e muitas vezes só feito de noite ao serão, e como não havia televisão, nem mais nada com que se entretecem, faziam malhas, rendas e bordados, ao som da rádio, com os folhetins da Emissora Nacional.
Todas as pessoas faziam um pouco de serão, há lareira ou braseira, para não ir muito sedo dormir, e a noite não parecer assim tão grande, de noite se faziam as costuras, malhas, e os enxovais completos.
Era por isso que em vésperas do Natal, os casacos e camisolas que tinham sido tricotados nesse ambiente de fumo, no fim de feitos, tinham de ser lavados.
Assim se fez, ninguém podia ir estriar um casaco novo em dia de Natal, a cheirar a fumo, ou amarelo, do mesmo para ir á missa.


Como não havia máquinas de lavar e secar roupa, também não tinham alternativa, secar em casa era o mesmo que não ter lavado, então tinha de se pendurar para secar, nos arames de estender a roupa que eram na rua.
Ainda que, se pendurassem debaixo de um alpendre, que havia na saída da porta da cozinha, com aquela situação atmosférica era o mesmo que na rua.
Não se sabe quantos graus, de temperatura estariam, nem era de certeza preocupação saber, dois dias antes do dia de Natal, as malhas foram lavadas e estendidas, passaram as primeiras vinte e quatro horas e, continuavam, precisamente na mesma, encharcados, ou talvez pior.

A NOITE DE NATAL


Chegou finalmente a véspera do Natal, nesse dia era o dia dos preparativos para a grande noite, e por conseguinte, para o grande dia, limpezas, o comprar de uns quilos de farinha para fazer os coscorões, o azeite para os fritar já, teria sido apanhada a azeitona, e trocada no lagar pelo azeite, não só para fazer os fritos das festas natalícias mas também, para gastar no dia-a-dia, na confecção da alimentação.


A primeira coisa a fazer para a época natalícia, eram as broas, faziam sempre uma semana antes, cada mãe de família tinha as suas receitas, muitas vezes ciosas delas, e não gostavam de dizer, gostavam que fossem únicas a ter a sua especialidade.
Compravam-se mais um quilo de açúcar, e canela para polvilhar os fritos, também para mais algum mimo, matava-se um bico de criação, que seria um galo ou galinha grande, da capoeira, criada apenas com, os restos de alimentos de casa ou legumes da horta.


A véspera de Natal era muito importante e tradicional, dentro das possibilidades de cada família e, a de Dalila sendo pobre seguia a tradição, comendo as couves portuguesas, ou de sete semanas, como lhe chamavam na aldeia, criadas e cortadas na horta, com batatas e o respectivo bacalhau, que nessa época ainda fazia parte da alimentação dos pobres.


A ceia era cozida e comida logo á hora habitual, como nos outros dias, a seguir ia tratar-se de amaçar os fritos, eram amassados no mínimo três quilos de farinha dentro de um alguidar de barro vidrado, despejada a farinha no alguidar, procedia-se há colocação dos ingredientes de tempero para que ficassem gostosos.


Dalila já tinha aprendido com a mãe a tempera-los, começava por pôr, meia mão de sal, “que na aldeia se dizia, meia macheia de sal” o mesmo que se colocava para meio alqueire de pão, alguns ovos de acordo com os que havia para gastar, sumo de laranja, um pouco de fermento em pó, um pouco de vinho branco, e um pouco de aguardente, raspa de casca e sumo de laranja.


Envolvia-se todos os ingredientes, começando por amassar juntando pouco a pouco água fervida com limão, continuando a amassar bastante, até que a massa fique macia, e feita numa grande bola.
Trabalhar a massa até que ao cortar com uma faca ela, ficasse bem arrendada no corte, deixando descansar de seguida um pouco.
Entretanto preparava-se a fogueira na chaminé, com lenha previamente organizada, cortada e rachada em cavacas, para arder em lume certo.
O azeite em cima da fornalha, ou trempe, até a fervura, dentro de um tacho ou caçarola larga, e suficientemente fundo, para fritar e voltar os coscorões, que já estavam estendidos, recortilhados e, ao serem colocados puderem ir ao fundo e subir em fritura, empolados, e voltando-se facilmente.


Lavado o mesmo alguidar onde teriam amassado os coscorões, iam-se colocando em camadas, polvilhados com açúcar e canela.
Todas estas tarefas eram divididas entre a família, cada uma fazia a sua parte para que tudo corresse bem, até ao final da noite de consoada.
Acabado o trabalho, era hora de provar e sentir o prazer, de comer os coscorões acompanhados por uma boa caneca de café de mistura, ou um cacau quentinho.


Ao lado da fogueira e da trempe, já alguém teria posto uma grande cafeteira de barro, ou esmalte, a cafeteira do café, para ir aquecendo a água até á fervura, misturavam-se umas colheres de café de mistura, na hora certa, mexer, e ter logo uma caneca com água fria, que se deitava assim que o café subia e se preparava para entornar com a fervura.


Afastava-se do lume, para assentar, e era um regalo, o café da cafeteira na casa de Julieta para acompanhar os primeiros coscorões na noite de Natal.
Tudo acabava por ali cerca da meia-noite, depois de arrumar a cozinha, as crianças já tinham ido para a cama, deixando o sapatinho na chaminé, um ratinho de chocolate, saltava lá para dentro.
Como Dalila já trabalhava para o ratinho, e já não punha o sapatinho, era ela que se encarregava de colocar as prendas nos sapatinhos das manas pequenas, já podia até acrescentar a sua oferta, já tinha o seu dinheirito, mesmo que pouco.


O DIA DE NATAL


O resto da noite era bem dormida, de manhã ao levantar, voltavam ao mesmo cenário, atear o lume novamente, espreitava-se como iria estar o tempo, do dia 25 de Dezembro, mais café e coscorões, era dia de Natal, a missa às 11,30, no Mosteiro de Santa Maria de Almoster, e tinham de ir a pé, porque ficava a 3km, e o pai bem lhes dizia, “digam qual é o santo da vossa devoção que eu compro cá para casa” isto só para elas não irem á missa a Almoster.


A noite tinha sido muito gelada, estava tudo branquinho de tanta geada, a avó Joaquina dizia “que não se via um palmo na frente do nariz,” com tanto nevoeiro, um verdadeiro cenário natalício.
Mas o pior é que não havia casacos,… estavam congelados,… reparem e pensem bem,… casacos congelados para vestir e ir á missa no dia de Natal,… mas estavam pendurados no arame, mesmo debaixo do telheiro, não havia nada a fazer.


E a alegria era a mesma, a festa faziam as irmãs mais pequenas divertidas, não tinham missa era verdade, mas tinham os casacos congelados, intouriçados, esticados nos arames, e sempre que passavam por eles naquele dia, davam-lhe uma pancada, para sentir como estavam duros, tanto que pareciam um pau, os seus casaquinhos do dia de Natal.


Chegada a hora do almoço, que poderia ser” roupa velha” uma mistura dos restos, legumes cozidos e bacalhau às lascas da véspera, ou até grão cozido com bacalhau, não havia propriamente uma tradição no almoço de uma família pobre, já para o jantar, teriam sempre uma galinha para matar, fazer uma canja de galinha caseira, que era muito bom, a galinha corada, e como sobremesa poderia ser um arroz doce e os fritos.


No largo da aldeia, ou mais junto das tabernas, havia sempre um cepo do Natal a arder, antes os homens iam deitando o olho a algum, que pudessem ir buscar para a acender na noite de Natal, a maioria das vezes era até roubado, mas isso também dava pica ao pessoal, pelo menos aos mais jovens.


Iam com um macho e uma carroça, que era o transporte mais fácil de arranjar, mais tarde com algum tractor, um grupo de homens para conseguir carrega-lo, depois descarregavam no sítio escolhido e ateavam o fogo, para o aquecimento dos homens que estavam por ali.
Esse cepo era sempre o suficientemente grande para ficar a arder desde a noite de Natal, até à noite de Ano Novo, passada essa quadra já se deixava apagar, o importante era o calor da época natalícia.


O Natal era mesmo a festa da família, ninguém fazia mais nada de diversão, se havia uma pessoa vizinha ou amiga que não fizesse fritos de Natal, por algum condicionalismo, que até poderia ser a morte de algum familiar, já não faziam nada para festejar o Natal.
Mas a essa pessoa ou família não lhe faltaria nada, todas as vizinhas se lembrariam de lhe ir levar um pratinho do que tivessem feito na sua casa, sendo um dos bons costumes de solidariedade, daquela pequena aldeia.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPITULO

LÍDIA FRADE