de LÍDIA FRADE - TRÊS LIVROS PUBLICADOS, PARTICIPAÇÃO EM CINCO ANTOLOGIAS DE POESIA E EM VÁRIAS OUTRAS EDIÇÕES * NASCEU ESTE ESPAÇO EM 11-02-2008 *
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
SER MULHER
SER MULHER
É ser fêmea
De sublime fecundação
É ser o âmago
O centro
O cálice
Da divina criação
Ser mulher
É ser receptora
É ser o elo
A continuação
Do cordão umbilical
Mas ser mulher
É muito mais
É ser força
Superior á igualdade
É ser a fonte
A terra
É ser a escolhida
Para Mãe da humanidade.
VESTIDO DE LUA
VESTIDO DE LUA
Porque imaginei meu corpo
Com um vestido mais lindo
De linho,
E fios de luar tecidos?
Trabalhado, entrelaçado,
E para dar mais brilho
Ao linho
Ao linho fino do monte
Lavado na mais pura fonte
E num tear trabalhado
Por um sábio tecelão
Que de arrecada na mão
E a sua imaginação
Põe engenhos a rolar
Vai buscar fios ao luar!
Como se a lua deixasse?!
E os seus fios doasse!
Queria eu
Fazer algo que me envolvesse
Que me tapasse
Que me escondesse
E seria esse vestido
De fios de luar tecido.
E com o meu corpo envolvido
De toda a imaginação
Poderia servir também
De maior contemplação.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
TU ÉS ACTOR
ATÉ PARA QUEM, ASSIM NÃO SENTE.
TODO O SER É UM ACTOR
SEU PAPEL É RELEVANTE
E SEU BRILHO CONSOANTE
AO PAPEL QUE TEM NA VIDA.
TODOS SOMOS
OU TODA A UMANIDADE
COMO SIMPLES MARIONETAS
EM CENA ABERTA
TODOS FORÇA E INVENÇÃO
MAS DE IMPOTENTE FRAGILIDADE.
A FORÇA DA NATUREZA
SÓ NOS MOSTRA ESSA CERTEZA.
PROVOCA O CENÁRIO
MONTA O PALCO DO SACRIFÍCIO
QUE RESTA AO ACTOR?
A IMPOTÊNCIA DE UMA PENA
QUE QUALQUER PÁSSARO
DEIXOU CAIR AO VOAR
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
ÉCO NO SILÊNCIO
ECO NO SILÊNCIO
Um eco rasga o silêncio.
Noite escura, noite de breu.
Minha alma
Solta no espaço
Desintegrada
Deixou por instantes
Meu corpo,
Que descansa na penumbra.
Olhos fechados,
Meu sonho perdido
No vazio imenso.
No frio, eu procuro
O calor dos teus braços,
Gelada, molhada, perdida,
Em lugares distantes.
Minha alma, no sonho, avança
Meu inconsciente é alargado,
Purificado, em aromas de incenso
Procurando, procurando em vão,
Teu corpo na escuridão.
De novo, o silêncio, rasgado num eco,
Desperto, regressando á realidade.
Estou deitada, gelada
Como se andasse no espaço.
Meu tempo de evasão acabou,
Meu dia começou,
Tem outra verdade,
Com o mesmo desejo
De ser desejada,
Com a mesma ansiedade
No meu coração.
Já é dia claro
Não há escuridão.
Acabou meu sonho
Ficou a ilusão
De até mim chegar
A doce carícia da tua mão.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
BALANÇA DA VIDA
A vida é uma balança
Oscilante em seu pesar,
Sem o equilíbrio
De um trinco,
Ou na doçura de um amor
Faminto,
Um abraço forte
A aconchegar,
O seu fiel, vai tombar.
Sou árvore que deu semente
E isso, eu não vou esquecer
Se algo perdi!
Não importa,
Eu tenho a força da terra!
A renovar o meu ser!
Sendo a soma da verdade,
A vida que foi passada,
Com paz, ternura, e amor?
Serei sempre!
Força viva!
Com presença renovada!
NO PARQUE DAS LARANJEIRAS
FINDO CONTRATO
Era uma tarde de sol
Amena, serena, quentinha,
Um convite a passear
Ou simplesmente a andar
Tentando matar o tempo
Se o tempo é para matar.
No parque das laranjeiras
Naquela tarde de sol
De inverno quase a findar,
Na dor de tantas vinganças
Para um contrato acabar
Um contrato
Ou o que lhe queiram chamar.
Mais do que um parto dorido,
Para quem pariu por amar
Vai sempre sentir a dor
Misturada com prazer,
Dor e amor do mesmo lado.
Não tendo o mesmo valor
Este amor inacabado,
Porque para parir
Não foi preciso
Fazer contrato assinado!
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
NOSSA VIDA
O tudo da vida
Nada mais é
Que a própria vida!
O tudo da vida
É um óvulo!
O desenvolver,o crescer,
É o sentir o bater
De um outro coração,
Dentro do seu próprio corpo
Do seu próprio ser.
O tudo da vida
É sentir sair das entranhas!
Com a dor
Um misto de alegria
Por dar a vida com amor!
A certeza da vida
É saber que jamais!
Poderá,
Alguém ser pai!
Se não existir!
UMA MÃE!
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
AMIGAS PARA SEMPRE
AMIGAS PARA SEMPRE
Ó noite que sempre foste
Das minhas palavras aliada
Das minhas noites de insónia
A confidente
E eu, na tua escuridão
Fechada, aconchegada,
Com todo o tempo para sonhar
Mesmo acordada
É nas minhas noites sós
Que eu vivo o meu reinado
Sem querer abrir a porta
Á solidão
Que eu seguro
Nas minhas folhas de papel
De qualquer cor
Quando te peço ajuda
Ó noite,
Quando te estendo a mão,
Para que me tragas na tua
CORAGEM DE SER
Senti que lancei
O meu corpo às feras,
E que a água fétida dos charcos
Veio salpicar o meu espírito,
E que senti em mim mesma
O cheiro nauseabundo,
Da podridão escondida
Que foi sendo revelada.
Senti que fui alvo
De armas de tempos passados
De flechas, e guilhotinas,
Ou senti-me asfixiar
Debaixo de um alçapão,
Senti-me assim personagem
Daqueles filmes violentos,
Que julgava eu, eram apenas
Figuras da imaginação.
Mas nesta longa-metragem
Vou bater-me
Até á exaustão.
Não me importo
De ser injustamente queimada
Como o foi Joana D´Arc..
O que me interessa da vida
É tão-somente a verdade:
Lutar pelos meus ideais.
E recuso, e não quero
Viver o tempo que resta
Em lutas medievais.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
CONTO, VIAGEM Á FEIRA, PARA OS NETOS
O DIA DE TODOS OS SANTO
O dia de todos os santos era um dia muito importante na minha infância.
Até para o meu pai também era mas por outros motivos que não os meus de criança.
Já para a minha mãe era o prazer de partilhar naquele ano, um programa com o meu pai em família coisa que pouco acontecia.
O dia já estava preparado de véspera, pelo meu pai, pela minha mãe, o pai só se preocupava com o transporte que ele já tinha preparado ao pormenor, era a pintura da carroça que servia de transporte, tinha sido toda pintada de azul, as ferragens era pintadas em preto, o pai tinha colocado umas rodas de carro adaptadas na carroça e estava toda bonita, o pai gostava muito modificar a seu jeito, era como se fosse o verdadeiro carro dele.
Depois o abrilhantar dos metais que ornamentavam os arreios do macho, o cabedal era ensebado com sebo de carneiro que o pai sabia preparar, até o macho no fim de escovado, ficava todo enfeitado, com os arreios, uma guizeira com guizos de cobre pendurada ao pescoço, com o trotar do macho faziam uma música constante que se ouvia a larga distancia, todas as pessoas olhavam, dava nas vistas, com uns rabos de raposa muito lindos, com fitinhas de várias cores, penduradas um de cada lado das orelhas, o pai era mesmo muito vaidoso com aqueles apetrechos.
A mãe tinha matado uma boa galinha na véspera, de manhã acendeu o forno de lenha, colocou a galinha a corar, já previamente meia cozida, galinha barrada com tempero, e entra no forno no tabuleiro, entretanto a mãe foi fazendo um arroz no caldo da galinha, meio cozido coloco-o no tabuleiro á volta da galinha, rodelas de chouriço a decorar o arroz, e voltou tudo ao forno, para acabar de cozer e corar, ali estava preparado o nosso almoço que seria comido na feira do Cartaxo, a feira de Todos os Santos.
Depois de nos dar banho a mãe vestiu-nos com a melhor roupa, para ir-mos á feira.
Eu e a minha irmã Léla como era-mos as mais velhas andava-mos quase sempre vestidas de igual, e sei que tinha-mos uns sapatos pretos feitos de encomenda ao sapateiro da serra, como lhe chamavam, que seria da Benedita, terra de sapateiros.
Ele ia por aquelas pequenas aldeias, tirava o molde do pé num papel pardo, um risco de lápis, fazendo o molde do pé, e na volta trazia os sapatos feitos, com a recomendação dos pais de deixar uns centímetros a mais, para o crescimento do pé, pois aqueles sapatos seriam muito poupadinhos, só quando estavam a deixar de nos servir é que os podíamos calçar á vontade para nos aproveitar-mos dos sapatos e acabar com eles.
A mãe tinha comprado umas meias de algodão hás riscas horizontais e multicores, que chegavam até ao joelho, e fez-nos umas saias de xadrês todas pregueadas e vincadas, que eu adorava, com camisolas iguais, estava-mos todas bonitinhas e quase na hora de saída, quando nos chega alguns colegas meus de escola, que vinham pedir o pão por Deus.
Nós vivia-mos nessa época, numa fazenda que era do avô Franquinho, foi lá que nasceram quatro das cinco filhas, lá havia todas as frutas e fartura de tudo, a avó Joaquina secava muitos figos, tudo se aproveitava, até as maçãs e pêssegos, a avó cortava e secava ao sol ás rodelas, passava uvas, das que ela sabia serem boas para tal, e depois dos frutos de Inverno havia as romãs grandes de boa qualidade.
Por isso mesmo alguns dos meus colegas lá da terra, mais desfavorecidos, e porque era hábito, sabiam onde ir pedir o pão por Deus, traziam uns sacos de retalhos que procuravam encher antes de regressar a casa, e lá fui eu e mais a minha irmã contribuir com o que a mãe nos deu para lhes meter no saco, mas não os deixei ir embora sem primeiro lhes dar a novidade que nós ia-mos para a feira, eu estava tão feliz que queria partilhar com eles a aventura daquele dia especial.
Chegou a hora, o tabuleiro do almoço dentro da alcofa, com tudo o resto necessário, a carroça, o macho enfeitado, os pais preparados no banco da frente, outro improvisado virado para traz para nós as pequenas, e lá fomos todos felizes da vida naquele dia de Todos os Santos.
Chegados á feira, o pai foi procurar uma pessoa conhecida que tinha uma adega e, pediu-lhe para guardar lá algumas coisas, que poderiam estar sujeitas a roubo, também foi lá que abanca-mos para almoçar aquele saboroso almoço de festa que ainda hoje está presente na minha lembrança, chegando quase a sentir-lhe o cheiro, o sabor, e a fotografia visual.
A tarde estava linda, cheia de sol, naquele dia primeiro de Novembro, o pai foi procurar os amigos, e a mãe connosco passear, mostrar-nos a feira, e andar de carrossel, fomos numa barraca compramos rifas para uma roda da sorte, e não saiu nada, noutra barraca pagava-mos 50 centavos por cada argola, que ao atirar para várias filas de prateleiras, se enfia-se no determinado sítio ganhava-mos o premio, foi assim que conseguimos trazer uma lembrança da feira, uma nossa senhora toscamente moldada, e pintada de cores garridas.
Quando nos juntamos de novo com o pai, fomos comer mais um pouco da nossa galinha e, ouvi a mãe discretamente falar com o pai em levar-nos ai circo, acabado o pequeno jantar, fomos todos juntos até perto do circo, a mãe levou-nos ver os animais que estavam nas jaulas, no espaço em redor, entretanto o pai juntou-se a nós, e já trazia os bilhetes para nos levar ao circo.
E foi muito giro, havia cavalos, cães, um tigre, e havia pombas que um ilusionista fazia aparecer, e desaparecer, os palhaços pobres e o rico, que mandava tudo, e troçava dos pobres, mas tocavam, o pobre saxofone, o rico concertina, os trapezistas, contorcionistas, malabaristas, um homem que engolia fogo, e voltava a acender as tochas, e a grande atracão, um canhão, entrava um homem dentro do cano do canhão, tudo preparado, o canhão ia ser activado para o dito tiro de canhão, o seuspânse, tudo concentrado, um certo medo na pequenada, o que iria acontecer com o homem?
O canhão estava apontado para as bancadas, contagem decrescente, e a explosão, o homem pelo ar no meio de uma fumarada, onde é que ele poderia ir cair?
Mas estava tudo medido, no tempo, e no espaço, e uma rede segura num espaço mais escuro, entre o tecto e o publico, foi aí que o homem foi cair, em segurança medida e prevista.
Sai-mos do espectáculo, o regresso até há carroça, o aparelhar de novo o macho á carroça, que era o nosso transporte de volta para casa.
Era de noite, eu só me apercebi que era noite, quando nos metemos a caminho, já fora do Cartaxo, como é que o macho e o meu pai sem luz eléctrica, como havia na feira, viam o caminho?
Eu estava com medo, apesar de o meu pai ter pendurado uma lanterna a petróleo do lado esquerdo da carroça, aquela luz pouco iluminava, mas o pai não tinha medo e para ele assim estava certo, percorremos quinze km para chegar a casa, o macho a trote, a manta que para lá tinha servido só para por a tapar os bancos para ficarem mais confortáveis, agora no regresso tinha sido colocada no fundo da carroça para nós nos deitar-mos, assim fizemos a viagem, que ainda era longa, sem percalços apesar da distancia que aproveitamos para dormir.
Vó Ly
O dia de todos os santos era um dia muito importante na minha infância.
Até para o meu pai também era mas por outros motivos que não os meus de criança.
Já para a minha mãe era o prazer de partilhar naquele ano, um programa com o meu pai em família coisa que pouco acontecia.
O dia já estava preparado de véspera, pelo meu pai, pela minha mãe, o pai só se preocupava com o transporte que ele já tinha preparado ao pormenor, era a pintura da carroça que servia de transporte, tinha sido toda pintada de azul, as ferragens era pintadas em preto, o pai tinha colocado umas rodas de carro adaptadas na carroça e estava toda bonita, o pai gostava muito modificar a seu jeito, era como se fosse o verdadeiro carro dele.
Depois o abrilhantar dos metais que ornamentavam os arreios do macho, o cabedal era ensebado com sebo de carneiro que o pai sabia preparar, até o macho no fim de escovado, ficava todo enfeitado, com os arreios, uma guizeira com guizos de cobre pendurada ao pescoço, com o trotar do macho faziam uma música constante que se ouvia a larga distancia, todas as pessoas olhavam, dava nas vistas, com uns rabos de raposa muito lindos, com fitinhas de várias cores, penduradas um de cada lado das orelhas, o pai era mesmo muito vaidoso com aqueles apetrechos.
A mãe tinha matado uma boa galinha na véspera, de manhã acendeu o forno de lenha, colocou a galinha a corar, já previamente meia cozida, galinha barrada com tempero, e entra no forno no tabuleiro, entretanto a mãe foi fazendo um arroz no caldo da galinha, meio cozido coloco-o no tabuleiro á volta da galinha, rodelas de chouriço a decorar o arroz, e voltou tudo ao forno, para acabar de cozer e corar, ali estava preparado o nosso almoço que seria comido na feira do Cartaxo, a feira de Todos os Santos.
Depois de nos dar banho a mãe vestiu-nos com a melhor roupa, para ir-mos á feira.
Eu e a minha irmã Léla como era-mos as mais velhas andava-mos quase sempre vestidas de igual, e sei que tinha-mos uns sapatos pretos feitos de encomenda ao sapateiro da serra, como lhe chamavam, que seria da Benedita, terra de sapateiros.
Ele ia por aquelas pequenas aldeias, tirava o molde do pé num papel pardo, um risco de lápis, fazendo o molde do pé, e na volta trazia os sapatos feitos, com a recomendação dos pais de deixar uns centímetros a mais, para o crescimento do pé, pois aqueles sapatos seriam muito poupadinhos, só quando estavam a deixar de nos servir é que os podíamos calçar á vontade para nos aproveitar-mos dos sapatos e acabar com eles.
A mãe tinha comprado umas meias de algodão hás riscas horizontais e multicores, que chegavam até ao joelho, e fez-nos umas saias de xadrês todas pregueadas e vincadas, que eu adorava, com camisolas iguais, estava-mos todas bonitinhas e quase na hora de saída, quando nos chega alguns colegas meus de escola, que vinham pedir o pão por Deus.
Nós vivia-mos nessa época, numa fazenda que era do avô Franquinho, foi lá que nasceram quatro das cinco filhas, lá havia todas as frutas e fartura de tudo, a avó Joaquina secava muitos figos, tudo se aproveitava, até as maçãs e pêssegos, a avó cortava e secava ao sol ás rodelas, passava uvas, das que ela sabia serem boas para tal, e depois dos frutos de Inverno havia as romãs grandes de boa qualidade.
Por isso mesmo alguns dos meus colegas lá da terra, mais desfavorecidos, e porque era hábito, sabiam onde ir pedir o pão por Deus, traziam uns sacos de retalhos que procuravam encher antes de regressar a casa, e lá fui eu e mais a minha irmã contribuir com o que a mãe nos deu para lhes meter no saco, mas não os deixei ir embora sem primeiro lhes dar a novidade que nós ia-mos para a feira, eu estava tão feliz que queria partilhar com eles a aventura daquele dia especial.
Chegou a hora, o tabuleiro do almoço dentro da alcofa, com tudo o resto necessário, a carroça, o macho enfeitado, os pais preparados no banco da frente, outro improvisado virado para traz para nós as pequenas, e lá fomos todos felizes da vida naquele dia de Todos os Santos.
Chegados á feira, o pai foi procurar uma pessoa conhecida que tinha uma adega e, pediu-lhe para guardar lá algumas coisas, que poderiam estar sujeitas a roubo, também foi lá que abanca-mos para almoçar aquele saboroso almoço de festa que ainda hoje está presente na minha lembrança, chegando quase a sentir-lhe o cheiro, o sabor, e a fotografia visual.
A tarde estava linda, cheia de sol, naquele dia primeiro de Novembro, o pai foi procurar os amigos, e a mãe connosco passear, mostrar-nos a feira, e andar de carrossel, fomos numa barraca compramos rifas para uma roda da sorte, e não saiu nada, noutra barraca pagava-mos 50 centavos por cada argola, que ao atirar para várias filas de prateleiras, se enfia-se no determinado sítio ganhava-mos o premio, foi assim que conseguimos trazer uma lembrança da feira, uma nossa senhora toscamente moldada, e pintada de cores garridas.
Quando nos juntamos de novo com o pai, fomos comer mais um pouco da nossa galinha e, ouvi a mãe discretamente falar com o pai em levar-nos ai circo, acabado o pequeno jantar, fomos todos juntos até perto do circo, a mãe levou-nos ver os animais que estavam nas jaulas, no espaço em redor, entretanto o pai juntou-se a nós, e já trazia os bilhetes para nos levar ao circo.
E foi muito giro, havia cavalos, cães, um tigre, e havia pombas que um ilusionista fazia aparecer, e desaparecer, os palhaços pobres e o rico, que mandava tudo, e troçava dos pobres, mas tocavam, o pobre saxofone, o rico concertina, os trapezistas, contorcionistas, malabaristas, um homem que engolia fogo, e voltava a acender as tochas, e a grande atracão, um canhão, entrava um homem dentro do cano do canhão, tudo preparado, o canhão ia ser activado para o dito tiro de canhão, o seuspânse, tudo concentrado, um certo medo na pequenada, o que iria acontecer com o homem?
O canhão estava apontado para as bancadas, contagem decrescente, e a explosão, o homem pelo ar no meio de uma fumarada, onde é que ele poderia ir cair?
Mas estava tudo medido, no tempo, e no espaço, e uma rede segura num espaço mais escuro, entre o tecto e o publico, foi aí que o homem foi cair, em segurança medida e prevista.
Sai-mos do espectáculo, o regresso até há carroça, o aparelhar de novo o macho á carroça, que era o nosso transporte de volta para casa.
Era de noite, eu só me apercebi que era noite, quando nos metemos a caminho, já fora do Cartaxo, como é que o macho e o meu pai sem luz eléctrica, como havia na feira, viam o caminho?
Eu estava com medo, apesar de o meu pai ter pendurado uma lanterna a petróleo do lado esquerdo da carroça, aquela luz pouco iluminava, mas o pai não tinha medo e para ele assim estava certo, percorremos quinze km para chegar a casa, o macho a trote, a manta que para lá tinha servido só para por a tapar os bancos para ficarem mais confortáveis, agora no regresso tinha sido colocada no fundo da carroça para nós nos deitar-mos, assim fizemos a viagem, que ainda era longa, sem percalços apesar da distancia que aproveitamos para dormir.
Vó Ly
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