O DIA DE TODOS OS SANTO
O dia de todos os santos era um dia muito importante na minha infância.
Até para o meu pai também era mas por outros motivos que não os meus de criança.
Já para a minha mãe era o prazer de partilhar naquele ano, um programa com o meu pai em família coisa que pouco acontecia.
O dia já estava preparado de véspera, pelo meu pai, pela minha mãe, o pai só se preocupava com o transporte que ele já tinha preparado ao pormenor, era a pintura da carroça que servia de transporte, tinha sido toda pintada de azul, as ferragens era pintadas em preto, o pai tinha colocado umas rodas de carro adaptadas na carroça e estava toda bonita, o pai gostava muito modificar a seu jeito, era como se fosse o verdadeiro carro dele.
Depois o abrilhantar dos metais que ornamentavam os arreios do macho, o cabedal era ensebado com sebo de carneiro que o pai sabia preparar, até o macho no fim de escovado, ficava todo enfeitado, com os arreios, uma guizeira com guizos de cobre pendurada ao pescoço, com o trotar do macho faziam uma música constante que se ouvia a larga distancia, todas as pessoas olhavam, dava nas vistas, com uns rabos de raposa muito lindos, com fitinhas de várias cores, penduradas um de cada lado das orelhas, o pai era mesmo muito vaidoso com aqueles apetrechos.
A mãe tinha matado uma boa galinha na véspera, de manhã acendeu o forno de lenha, colocou a galinha a corar, já previamente meia cozida, galinha barrada com tempero, e entra no forno no tabuleiro, entretanto a mãe foi fazendo um arroz no caldo da galinha, meio cozido coloco-o no tabuleiro á volta da galinha, rodelas de chouriço a decorar o arroz, e voltou tudo ao forno, para acabar de cozer e corar, ali estava preparado o nosso almoço que seria comido na feira do Cartaxo, a feira de Todos os Santos.
Depois de nos dar banho a mãe vestiu-nos com a melhor roupa, para ir-mos á feira.
Eu e a minha irmã Léla como era-mos as mais velhas andava-mos quase sempre vestidas de igual, e sei que tinha-mos uns sapatos pretos feitos de encomenda ao sapateiro da serra, como lhe chamavam, que seria da Benedita, terra de sapateiros.
Ele ia por aquelas pequenas aldeias, tirava o molde do pé num papel pardo, um risco de lápis, fazendo o molde do pé, e na volta trazia os sapatos feitos, com a recomendação dos pais de deixar uns centímetros a mais, para o crescimento do pé, pois aqueles sapatos seriam muito poupadinhos, só quando estavam a deixar de nos servir é que os podíamos calçar á vontade para nos aproveitar-mos dos sapatos e acabar com eles.
A mãe tinha comprado umas meias de algodão hás riscas horizontais e multicores, que chegavam até ao joelho, e fez-nos umas saias de xadrês todas pregueadas e vincadas, que eu adorava, com camisolas iguais, estava-mos todas bonitinhas e quase na hora de saída, quando nos chega alguns colegas meus de escola, que vinham pedir o pão por Deus.
Nós vivia-mos nessa época, numa fazenda que era do avô Franquinho, foi lá que nasceram quatro das cinco filhas, lá havia todas as frutas e fartura de tudo, a avó Joaquina secava muitos figos, tudo se aproveitava, até as maçãs e pêssegos, a avó cortava e secava ao sol ás rodelas, passava uvas, das que ela sabia serem boas para tal, e depois dos frutos de Inverno havia as romãs grandes de boa qualidade.
Por isso mesmo alguns dos meus colegas lá da terra, mais desfavorecidos, e porque era hábito, sabiam onde ir pedir o pão por Deus, traziam uns sacos de retalhos que procuravam encher antes de regressar a casa, e lá fui eu e mais a minha irmã contribuir com o que a mãe nos deu para lhes meter no saco, mas não os deixei ir embora sem primeiro lhes dar a novidade que nós ia-mos para a feira, eu estava tão feliz que queria partilhar com eles a aventura daquele dia especial.
Chegou a hora, o tabuleiro do almoço dentro da alcofa, com tudo o resto necessário, a carroça, o macho enfeitado, os pais preparados no banco da frente, outro improvisado virado para traz para nós as pequenas, e lá fomos todos felizes da vida naquele dia de Todos os Santos.
Chegados á feira, o pai foi procurar uma pessoa conhecida que tinha uma adega e, pediu-lhe para guardar lá algumas coisas, que poderiam estar sujeitas a roubo, também foi lá que abanca-mos para almoçar aquele saboroso almoço de festa que ainda hoje está presente na minha lembrança, chegando quase a sentir-lhe o cheiro, o sabor, e a fotografia visual.
A tarde estava linda, cheia de sol, naquele dia primeiro de Novembro, o pai foi procurar os amigos, e a mãe connosco passear, mostrar-nos a feira, e andar de carrossel, fomos numa barraca compramos rifas para uma roda da sorte, e não saiu nada, noutra barraca pagava-mos 50 centavos por cada argola, que ao atirar para várias filas de prateleiras, se enfia-se no determinado sítio ganhava-mos o premio, foi assim que conseguimos trazer uma lembrança da feira, uma nossa senhora toscamente moldada, e pintada de cores garridas.
Quando nos juntamos de novo com o pai, fomos comer mais um pouco da nossa galinha e, ouvi a mãe discretamente falar com o pai em levar-nos ai circo, acabado o pequeno jantar, fomos todos juntos até perto do circo, a mãe levou-nos ver os animais que estavam nas jaulas, no espaço em redor, entretanto o pai juntou-se a nós, e já trazia os bilhetes para nos levar ao circo.
E foi muito giro, havia cavalos, cães, um tigre, e havia pombas que um ilusionista fazia aparecer, e desaparecer, os palhaços pobres e o rico, que mandava tudo, e troçava dos pobres, mas tocavam, o pobre saxofone, o rico concertina, os trapezistas, contorcionistas, malabaristas, um homem que engolia fogo, e voltava a acender as tochas, e a grande atracão, um canhão, entrava um homem dentro do cano do canhão, tudo preparado, o canhão ia ser activado para o dito tiro de canhão, o seuspânse, tudo concentrado, um certo medo na pequenada, o que iria acontecer com o homem?
O canhão estava apontado para as bancadas, contagem decrescente, e a explosão, o homem pelo ar no meio de uma fumarada, onde é que ele poderia ir cair?
Mas estava tudo medido, no tempo, e no espaço, e uma rede segura num espaço mais escuro, entre o tecto e o publico, foi aí que o homem foi cair, em segurança medida e prevista.
Sai-mos do espectáculo, o regresso até há carroça, o aparelhar de novo o macho á carroça, que era o nosso transporte de volta para casa.
Era de noite, eu só me apercebi que era noite, quando nos metemos a caminho, já fora do Cartaxo, como é que o macho e o meu pai sem luz eléctrica, como havia na feira, viam o caminho?
Eu estava com medo, apesar de o meu pai ter pendurado uma lanterna a petróleo do lado esquerdo da carroça, aquela luz pouco iluminava, mas o pai não tinha medo e para ele assim estava certo, percorremos quinze km para chegar a casa, o macho a trote, a manta que para lá tinha servido só para por a tapar os bancos para ficarem mais confortáveis, agora no regresso tinha sido colocada no fundo da carroça para nós nos deitar-mos, assim fizemos a viagem, que ainda era longa, sem percalços apesar da distancia que aproveitamos para dormir.
Vó Ly
O dia de todos os santos era um dia muito importante na minha infância.
Até para o meu pai também era mas por outros motivos que não os meus de criança.
Já para a minha mãe era o prazer de partilhar naquele ano, um programa com o meu pai em família coisa que pouco acontecia.
O dia já estava preparado de véspera, pelo meu pai, pela minha mãe, o pai só se preocupava com o transporte que ele já tinha preparado ao pormenor, era a pintura da carroça que servia de transporte, tinha sido toda pintada de azul, as ferragens era pintadas em preto, o pai tinha colocado umas rodas de carro adaptadas na carroça e estava toda bonita, o pai gostava muito modificar a seu jeito, era como se fosse o verdadeiro carro dele.
Depois o abrilhantar dos metais que ornamentavam os arreios do macho, o cabedal era ensebado com sebo de carneiro que o pai sabia preparar, até o macho no fim de escovado, ficava todo enfeitado, com os arreios, uma guizeira com guizos de cobre pendurada ao pescoço, com o trotar do macho faziam uma música constante que se ouvia a larga distancia, todas as pessoas olhavam, dava nas vistas, com uns rabos de raposa muito lindos, com fitinhas de várias cores, penduradas um de cada lado das orelhas, o pai era mesmo muito vaidoso com aqueles apetrechos.
A mãe tinha matado uma boa galinha na véspera, de manhã acendeu o forno de lenha, colocou a galinha a corar, já previamente meia cozida, galinha barrada com tempero, e entra no forno no tabuleiro, entretanto a mãe foi fazendo um arroz no caldo da galinha, meio cozido coloco-o no tabuleiro á volta da galinha, rodelas de chouriço a decorar o arroz, e voltou tudo ao forno, para acabar de cozer e corar, ali estava preparado o nosso almoço que seria comido na feira do Cartaxo, a feira de Todos os Santos.
Depois de nos dar banho a mãe vestiu-nos com a melhor roupa, para ir-mos á feira.
Eu e a minha irmã Léla como era-mos as mais velhas andava-mos quase sempre vestidas de igual, e sei que tinha-mos uns sapatos pretos feitos de encomenda ao sapateiro da serra, como lhe chamavam, que seria da Benedita, terra de sapateiros.
Ele ia por aquelas pequenas aldeias, tirava o molde do pé num papel pardo, um risco de lápis, fazendo o molde do pé, e na volta trazia os sapatos feitos, com a recomendação dos pais de deixar uns centímetros a mais, para o crescimento do pé, pois aqueles sapatos seriam muito poupadinhos, só quando estavam a deixar de nos servir é que os podíamos calçar á vontade para nos aproveitar-mos dos sapatos e acabar com eles.
A mãe tinha comprado umas meias de algodão hás riscas horizontais e multicores, que chegavam até ao joelho, e fez-nos umas saias de xadrês todas pregueadas e vincadas, que eu adorava, com camisolas iguais, estava-mos todas bonitinhas e quase na hora de saída, quando nos chega alguns colegas meus de escola, que vinham pedir o pão por Deus.
Nós vivia-mos nessa época, numa fazenda que era do avô Franquinho, foi lá que nasceram quatro das cinco filhas, lá havia todas as frutas e fartura de tudo, a avó Joaquina secava muitos figos, tudo se aproveitava, até as maçãs e pêssegos, a avó cortava e secava ao sol ás rodelas, passava uvas, das que ela sabia serem boas para tal, e depois dos frutos de Inverno havia as romãs grandes de boa qualidade.
Por isso mesmo alguns dos meus colegas lá da terra, mais desfavorecidos, e porque era hábito, sabiam onde ir pedir o pão por Deus, traziam uns sacos de retalhos que procuravam encher antes de regressar a casa, e lá fui eu e mais a minha irmã contribuir com o que a mãe nos deu para lhes meter no saco, mas não os deixei ir embora sem primeiro lhes dar a novidade que nós ia-mos para a feira, eu estava tão feliz que queria partilhar com eles a aventura daquele dia especial.
Chegou a hora, o tabuleiro do almoço dentro da alcofa, com tudo o resto necessário, a carroça, o macho enfeitado, os pais preparados no banco da frente, outro improvisado virado para traz para nós as pequenas, e lá fomos todos felizes da vida naquele dia de Todos os Santos.
Chegados á feira, o pai foi procurar uma pessoa conhecida que tinha uma adega e, pediu-lhe para guardar lá algumas coisas, que poderiam estar sujeitas a roubo, também foi lá que abanca-mos para almoçar aquele saboroso almoço de festa que ainda hoje está presente na minha lembrança, chegando quase a sentir-lhe o cheiro, o sabor, e a fotografia visual.
A tarde estava linda, cheia de sol, naquele dia primeiro de Novembro, o pai foi procurar os amigos, e a mãe connosco passear, mostrar-nos a feira, e andar de carrossel, fomos numa barraca compramos rifas para uma roda da sorte, e não saiu nada, noutra barraca pagava-mos 50 centavos por cada argola, que ao atirar para várias filas de prateleiras, se enfia-se no determinado sítio ganhava-mos o premio, foi assim que conseguimos trazer uma lembrança da feira, uma nossa senhora toscamente moldada, e pintada de cores garridas.
Quando nos juntamos de novo com o pai, fomos comer mais um pouco da nossa galinha e, ouvi a mãe discretamente falar com o pai em levar-nos ai circo, acabado o pequeno jantar, fomos todos juntos até perto do circo, a mãe levou-nos ver os animais que estavam nas jaulas, no espaço em redor, entretanto o pai juntou-se a nós, e já trazia os bilhetes para nos levar ao circo.
E foi muito giro, havia cavalos, cães, um tigre, e havia pombas que um ilusionista fazia aparecer, e desaparecer, os palhaços pobres e o rico, que mandava tudo, e troçava dos pobres, mas tocavam, o pobre saxofone, o rico concertina, os trapezistas, contorcionistas, malabaristas, um homem que engolia fogo, e voltava a acender as tochas, e a grande atracão, um canhão, entrava um homem dentro do cano do canhão, tudo preparado, o canhão ia ser activado para o dito tiro de canhão, o seuspânse, tudo concentrado, um certo medo na pequenada, o que iria acontecer com o homem?
O canhão estava apontado para as bancadas, contagem decrescente, e a explosão, o homem pelo ar no meio de uma fumarada, onde é que ele poderia ir cair?
Mas estava tudo medido, no tempo, e no espaço, e uma rede segura num espaço mais escuro, entre o tecto e o publico, foi aí que o homem foi cair, em segurança medida e prevista.
Sai-mos do espectáculo, o regresso até há carroça, o aparelhar de novo o macho á carroça, que era o nosso transporte de volta para casa.
Era de noite, eu só me apercebi que era noite, quando nos metemos a caminho, já fora do Cartaxo, como é que o macho e o meu pai sem luz eléctrica, como havia na feira, viam o caminho?
Eu estava com medo, apesar de o meu pai ter pendurado uma lanterna a petróleo do lado esquerdo da carroça, aquela luz pouco iluminava, mas o pai não tinha medo e para ele assim estava certo, percorremos quinze km para chegar a casa, o macho a trote, a manta que para lá tinha servido só para por a tapar os bancos para ficarem mais confortáveis, agora no regresso tinha sido colocada no fundo da carroça para nós nos deitar-mos, assim fizemos a viagem, que ainda era longa, sem percalços apesar da distancia que aproveitamos para dormir.
Vó Ly
1 comentário:
De volta ??????
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