sexta-feira, 18 de junho de 2010

8 CAPITULO...DALILA PEQUENA MULHER

8º CAPITULO



DALILA PEQUENA MULHER



Dalila, como filha mais velha, ficou em casa, com mil recomendações, a tomar conta das irmãs, andavam elas, as mulheres, na encosta a trabalhar, de lá até se via perfeitamente a casa, e a mãe dissera que ‘se precisasse de alguma coisa’, para a chamar.

Mas Dalila não queria ser só a ama das manas, ela queria ser mais e, já que era dia de trabalho duro, que até tinha vindo uma mulher de fora, ela queria também trabalhar, e por isso mesmo se elas andavam a cavar, Dalila queria mostrar que também já era uma mulher para ajudar.

Começou por delegar esse cargo de ama, na sua irmã Amália, e ela foi ao trabalho, arrumou a cozinha, lavou louça, até a panela da sopa toda mascarrada, de fazer a comida no lume de lenha ela lavou. Acendeu o lume, colocou água na panela para fazer o almoço, queria ter já almoço feito quando a mãe chegasse.

Pensou um pouco e, resolveu fazer uma panela de sopa, couves lombardas com arroz, foi à horta apanhar uma couve, cortou-a com a faca em miudinho, lavou e meteu na panela, foi ao pacote do arroz, e meteu também um bocado dentro da panela, juntou sal e azeite, e tapou a panela para cozer.

Havia a mesa da cozinha, que ela queria alindar! Como não encontrou mais toalha nenhuma de mesa, colocou uma toalha turca de rosto, achou que assim podia resolver o problema que tinha, toalha é sempre toalha.


Foi procurar uma jarra a casa da mãe, porque estava na cozinha da avó, e a avó não tinha jarras, apanhou um grande ramo de flores, e colocou na jarra em cima da mesa e da toalha de limpar a cara, olhou e achou que estava bonita, a cozinha da avó enfeitada.

Na continuação dos seus trabalhos de dona de casa com nove anos e, ao procurar a tal toalha, encontrou uma camisa do pai que ela adorava, uma ideia lhe saltou, queria ficar diferente também na roupa, ficar mais mulher do que menina, despiu a sua roupa, e vestiu uma camisa de malha de seda azul com riscas brancas, que o pai tinha comprado lá para Lisboa, e que lhe servia agora de vestido.

Ela adorava aquela camisa, e para o pai também devia ser especial, ele andava a trabalhar em Lisboa, e da última vez que tinha vindo a casa, tinha chegado com aquela linda camisa, tinha um toque muito especial, aquela malha de seda, escorregante na sua delicadeza, e que Dalila desconhecia até ali, mas ficou deslumbrada, também porque ninguém ali naquela terra teria uma camisa igual à do seu pai.

Depois de tudo preparado em casa, e na sequência do seu trabalho, faltava lavar o biberão da sua irmã mais nova, a Graciete, e assim foi lavá-lo como via a mãe fazer.
Era uma garrafa, com uma chupeta que a mãe comprara na farmácia, e que tinha adaptado na garrafa. A forma de a lavar também era bem diferente das de hoje, que com todos os cuidados de lavagem até colocam as coisas num esterilizador próprio.

Pegou a garrafa, foi até junto de um monte de areia que havia perto da casa, meteu um pouco de areia dentro da garrafa, foi ao tanque onde estava sempre a água corrente e limpinha, meteu-a na garrafa, bateu muito bem batido para a areia arrancar os resíduos de leite, repetiu mais de uma vez, e ali estava o biberão bem limpinho para a próxima vez.

Mas alguma coisa teria de correr mal, este tanque tinha a beira rente à terra, estava cavado na terra e sem guarda, e ela de tanta água ter espalhado por ali com as suas lavagens, esbarrou, desequilibrou-se, cai mesmo de costas dentro do tanque, e como era enorme, era mais fundo do que o total da sua altura, esperneou, gritou quanto pode, mas a sua mãe não a ouviu, só que ela não desistiu até que conseguiu sair de lá sozinha.

Assustada, encharcada mas recuperada, voltou para casa, despiu a camisinha de malha de seda do pai, voltou a vestir a sua roupa, e entretanto chegaram elas, a mãe, a avó e a vizinha que andavam a trabalhar nas sementeiras. Tinha chegado a hora do almoço.

Quando a mãe vinha a chegar, já Amália foi a correr contar o que se tinha passado, que Dalila tinha caído dentro do tanque, é que ela gostava sempre de se antecipar com as novidades.

Quando Julieta entrou em casa viu o aparato da toalha e das flores em cima da mesa, fartou-se de rir e chamou a vizinha, que já ia subindo a serventia – o caminho secundário próprio da fazenda - para ir almoçar a casa, queria que ela visse o arranjo e o trabalho feito, e foi então que, toda vaidosa, Dalila lhes disse que estava a fazer couves com arroz para o almoço.

Foi festa de bom rir, até lhes contar o resto da história, a mãe ficou vaidosa da filha também, mas preocupada por causa do tanque, e misturado com ralhetes foi dizendo o ditado “ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo”. No fim de tudo foi ela que teve de retirar o biberão do tanque, pois Dalila conseguiu sair, mas a garrafa havia lá ficado.

LÍDIA FRADE


CONTINUA NO PROXIMO CAPITULO

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