A LAVAGEM DA ROUPA
Descrevemos agora, percorrendo, o resto da fazenda, passando o ribeiro por uma ponte artesanal, feita pela família. Aqui havia um terreno, era só de vinha, até se chegar a outro enorme tanque.
Esse tanque possuía a mesma dimensão do primeiro e era de nascente igual, mas tinha uma particularidade: era ali que normalmente se lavava a roupa da família e não só, algumas pessoas amigas usavam-no se não tinham onde lavar.
Julieta deixava que fossem lá fazê-lo, até porque havia perto outro tanque mas, como tudo era privado, tinha dono, e os donos eram os chamados “Velhos da Fonte”, eram um casal com fama de ricos, e cobravam para lá deixarem lavar.
Tudo isto numa época e numa aldeia onde não se ouvia falar de máquinas de lavar, e toda a roupa era lavada à mão, esfregada na pedra do tanque, e até colocada a corar ali mesmo pelo chão, ao sol, em cima de qualquer planta rasteira. A roupa era ensaboada e colocada ao sol, depois era só ir borrifando com água, para o sol ir ‘absorvendo’ as nódoas.
Enquanto se lavava a roupa ia-se logo estendendo de imediato por ali, por cima das latadas de videiras. Muitas vezes, como as roupas nessa época eram poucas, tinham de ser lavadas para voltar a vesti-las logo de seguida.
Também era de alguma conveniência voltar para casa com a roupa já seca, devido ao peso, que se tinha de transportar à cabeça, ainda com a agravante de não haver alguidares leves de plástico, e quando a roupa era transportada estando ainda molhada, era-o em alguidares de barro, algo muito mais pesado.
Por todo o lado e mais perto dos tanques havia flores plantadas, de várias espécies, que seriam para Julieta fazer ramos para vender, umas, a que ela chamava de vassourinhas, altas, esguias, havia-as brancas e azuis ou quase em lilás, e jarros, muitos jarros branquinhos.
Eram todas plantadas por ali, pela beira dos carreiros, enfeitavam e podiam ser transformadas em dinheiro, e era fácil regá-las estando perto dos tanques. Depois, era só apanhar grandes ramos, e tentar vendê-los.
CEREJEIRA E FIGUEIRA
As cerejeiras eram também por ali, a meia encosta, e como eram elas boas e grossas, só era pena que os frutos amadureciam e acabavam rapidamente. Dalila gostava delas, desfrutava todo o prazer de subir por ali acima, compor-se num tronco, comer aí até fartar, ninguém tinha a preocupação se estava lavada ou não, quer fossem cerejas ou outras frutas, se havia vontade de comer, era só apanhar das arvores e comer, e depois, se mais durassem, eram os melros os grandes aproveitadores.
Julieta bem fazia e metia espantalhos no cimo da cerejeira, latas penduradas a bater umas nas outras para os espantar, mas de pouco valia, eles comiam, cantavam, chilreavam, sem medo nem vergonha.
*
Passada a área do tanque e da horta, começava-se a subir para o termo da fazenda, mas agora com grande inclinação, a vinha continuava até meio da encosta, e logo a seguir aproximávamo-nos de uma figueira de figos grandes, de pele negra cor de beringela, que Dalila adorava.
Subia à figueira e comia, comia, até se fartar, eram dos primeiros a amadurecer, depois bem perto havia outra figueira pequenita, a de figos brancos, que dava duas vezes ao ano, os primeiros eram maiores, os da segunda camada eram muito pequeninos e tão saborosos que regalava comê-los.
Havia outra figueira que Julieta dizia ter plantado quando Dalila nasceu, porque acreditava que seria bom plantar uma árvore, da sua idade, para crescer assim com ela. O facto é que logo, quando Dalila começou a entender esse sentido, passou a sentir-se ligada àquela árvore, e várias vezes subia a encosta e ia sentar-se ao pé da figueira, e ver quanto ela crescia, assim, bem mais do que Dalila.
No entanto pouco se atrevia a subi-la, ficava só ali pelo pé, achava-a muito frágil para subir mais, como subia nas outras grandes e apanhar-lhe os figos, e a mãe chamava-as sempre à atenção, dizendo como as figueiras se partiam com facilidade com o peso, lascavam as trancas.
Podia até acontecer que, com o peso dos figos, se eram em grande quantidade quando estavam maduros, e quando havia muito calor, lascavam e caíam trancas, e aquela era a sua figueira, e ela queria era vê-la crescer saudável.
O resto do terreno era de semear, e era normal semear-se por lá as favas, ervilhas, tremoços, ou gramicha, que Deodato gostava muito de semear para ração do gado.
Certa vez Julieta arranjara até outra mulher para ir semear as ervilhas com ela, a avó Joaquina foi também para pôr as ervilhas no rego, e Julieta e a outra senhora iam cavando e estonando, que era o raspar das ervas daninhas para dentro do rego, onde apodrecia e servia de estrume ou fertilizante.
A autora Lídia Frade
CONTINUA NO PROXIMO CAPITULO
Descrevemos agora, percorrendo, o resto da fazenda, passando o ribeiro por uma ponte artesanal, feita pela família. Aqui havia um terreno, era só de vinha, até se chegar a outro enorme tanque.
Esse tanque possuía a mesma dimensão do primeiro e era de nascente igual, mas tinha uma particularidade: era ali que normalmente se lavava a roupa da família e não só, algumas pessoas amigas usavam-no se não tinham onde lavar.
Julieta deixava que fossem lá fazê-lo, até porque havia perto outro tanque mas, como tudo era privado, tinha dono, e os donos eram os chamados “Velhos da Fonte”, eram um casal com fama de ricos, e cobravam para lá deixarem lavar.
Tudo isto numa época e numa aldeia onde não se ouvia falar de máquinas de lavar, e toda a roupa era lavada à mão, esfregada na pedra do tanque, e até colocada a corar ali mesmo pelo chão, ao sol, em cima de qualquer planta rasteira. A roupa era ensaboada e colocada ao sol, depois era só ir borrifando com água, para o sol ir ‘absorvendo’ as nódoas.
Enquanto se lavava a roupa ia-se logo estendendo de imediato por ali, por cima das latadas de videiras. Muitas vezes, como as roupas nessa época eram poucas, tinham de ser lavadas para voltar a vesti-las logo de seguida.
Também era de alguma conveniência voltar para casa com a roupa já seca, devido ao peso, que se tinha de transportar à cabeça, ainda com a agravante de não haver alguidares leves de plástico, e quando a roupa era transportada estando ainda molhada, era-o em alguidares de barro, algo muito mais pesado.
Por todo o lado e mais perto dos tanques havia flores plantadas, de várias espécies, que seriam para Julieta fazer ramos para vender, umas, a que ela chamava de vassourinhas, altas, esguias, havia-as brancas e azuis ou quase em lilás, e jarros, muitos jarros branquinhos.
Eram todas plantadas por ali, pela beira dos carreiros, enfeitavam e podiam ser transformadas em dinheiro, e era fácil regá-las estando perto dos tanques. Depois, era só apanhar grandes ramos, e tentar vendê-los.
CEREJEIRA E FIGUEIRA
As cerejeiras eram também por ali, a meia encosta, e como eram elas boas e grossas, só era pena que os frutos amadureciam e acabavam rapidamente. Dalila gostava delas, desfrutava todo o prazer de subir por ali acima, compor-se num tronco, comer aí até fartar, ninguém tinha a preocupação se estava lavada ou não, quer fossem cerejas ou outras frutas, se havia vontade de comer, era só apanhar das arvores e comer, e depois, se mais durassem, eram os melros os grandes aproveitadores.
Julieta bem fazia e metia espantalhos no cimo da cerejeira, latas penduradas a bater umas nas outras para os espantar, mas de pouco valia, eles comiam, cantavam, chilreavam, sem medo nem vergonha.
*
Passada a área do tanque e da horta, começava-se a subir para o termo da fazenda, mas agora com grande inclinação, a vinha continuava até meio da encosta, e logo a seguir aproximávamo-nos de uma figueira de figos grandes, de pele negra cor de beringela, que Dalila adorava.
Subia à figueira e comia, comia, até se fartar, eram dos primeiros a amadurecer, depois bem perto havia outra figueira pequenita, a de figos brancos, que dava duas vezes ao ano, os primeiros eram maiores, os da segunda camada eram muito pequeninos e tão saborosos que regalava comê-los.
Havia outra figueira que Julieta dizia ter plantado quando Dalila nasceu, porque acreditava que seria bom plantar uma árvore, da sua idade, para crescer assim com ela. O facto é que logo, quando Dalila começou a entender esse sentido, passou a sentir-se ligada àquela árvore, e várias vezes subia a encosta e ia sentar-se ao pé da figueira, e ver quanto ela crescia, assim, bem mais do que Dalila.
No entanto pouco se atrevia a subi-la, ficava só ali pelo pé, achava-a muito frágil para subir mais, como subia nas outras grandes e apanhar-lhe os figos, e a mãe chamava-as sempre à atenção, dizendo como as figueiras se partiam com facilidade com o peso, lascavam as trancas.
Podia até acontecer que, com o peso dos figos, se eram em grande quantidade quando estavam maduros, e quando havia muito calor, lascavam e caíam trancas, e aquela era a sua figueira, e ela queria era vê-la crescer saudável.
O resto do terreno era de semear, e era normal semear-se por lá as favas, ervilhas, tremoços, ou gramicha, que Deodato gostava muito de semear para ração do gado.
Certa vez Julieta arranjara até outra mulher para ir semear as ervilhas com ela, a avó Joaquina foi também para pôr as ervilhas no rego, e Julieta e a outra senhora iam cavando e estonando, que era o raspar das ervas daninhas para dentro do rego, onde apodrecia e servia de estrume ou fertilizante.
A autora Lídia Frade
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