quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A ROUPA E A QUINTA-FEIRA DE ASCENÇÃO

CAPITULO 16

A ROUPA E A QUINTA-FEIRA DE ASCENÇÃO



Quando chegava a Quinta-feira de Ascensão era sempre um dia muito especial, dia de estrear roupa nova, e num ano Julieta comprou ao Sr. Madeira um fioco de xadrez para fazer umas saias pregueadas, que a mãe alinhavava, e punha ainda goma, nas pregas, para depois passar a ferro, e ficarem bem vincadas.

Era só para Dalila e Amália, que eram as mais velhas. Comprou um tecido de pique amarelo, e fez as blusas de cava, decote quadrado, e abotoadas nas costas, e finalizava o conjunto com meias de algodão. Ficaram lindas e vaidosas.
*
Dalila e os outros colegas de escola iam apanhar a espiga e iam às cerejas, isto na quinta do Sr. Cordeiro. Iam brincar com a filha do caseiro, sua colega de escola, e a mãe dela arranjava um lanche para todos que comiam no jardim.

Depois de uma tarde de brincadeira, os ramos da espiga que tinham apanhado - oh! - já nem sabiam onde tinham ficado, e era ao regressar a casa que apanhavam outro, pois voltar a casa sem ramo de espiga não fazia sentido, uma vez que tinham saído em passeio precisamente para apanharem a espiga.

QUINTA-FEIRA DE ASCENÇÃO

De fato novo vestida
Quase sempre a estrear
Eu ia procurar a espiga
E cerejas apanhar.
Deste dia, em tal beleza,
Lembranças passadas, eu guardo
Porém sem grande certeza
Pelo seu significado.
Depois foi tempo de encanto
E o manter da tradição
Em bailaricos no campo
Com música de acordeão.
Dizia a avó, com carinho,
Deste dia tão guardado
Nem pássaros iam ao ninho
Em respeito a Cristo amado.

A FESTA DO VALE DE SANTARÉM

O Vale de Santarém ficava a cerca de dez quilómetros da Ponte do Celeiro e era uma das poucas terras que na época fazia as suas festas de Verão.
Os tios vivendo na Atalaia, e pais de Alberto e Clarisse, estavam convidados pelos compadres, que lá viviam, a ir lá passar as Festas, e então, certamente com a insistência dos filhos, que gostavam de ter as primas nos dias de festas especiais, lá foram convidadas também Dalila e Amália.

Para elas foi uma grande aventura, Alberto foi buscá-las de carroça da Ponte do Celeiro para Atalaia, e depois seguiram com os tios todos para a festa. Quando lá chegados, foi questão só de arrumarem a carroça e o macho. Os quatro primos juntaram-se aos dois afilhados dos tios, eram a Ana e o Artur, e foram todos para a festa, a procissão estava a começar a ser organizada.

A PROCISSÃO

Havia andores lindos,
E cheios de flores,
Santos elevados,
Pendões, estandartes,
Músicos fardados,
De passo certo aprumados,
Na banda a tocar.
Fogaceiras bonitas
Vestidas de branco,
Tabuleiros de ofertas
E bem recheados,
Com toalhas de rendas,
Que pareciam mantos.
Uma linda Juíza,
Vestida de azul,
Com folhos, laços, e rendas,
Que ocupavam seus espaços.
Anjinhos, de tiaras e asas,
Um padre vestido de branco,
Em túnica bordada,
Que causava espanto.
E a festa de noite,
Que era cheia de encanto,
Luzes coloridas, em flores e arcos,
Dançavam aos pares,
Ao som de músicos, nos palcos.
E havia o leilão, da fogaça…
Na cabeça da moça,
Onde não se entendia bem,
Se a fogaça ou a moça…
Subiam o lance a favor do pregão.

Mais… as quinquilharias... a fazer o seu negócio, Dalila tinha levado umas moedas que a mãe lhe havia dado, com a recomendação de não perder ou estragar, mas elas não gastaram sem fazerem uma análise sobre onde deveriam gastar as moedas, e chegaram a uma conclusão.

Elas, estavam na festa, e estava a ser lindo, portanto Dalila e Amália resolveram de comum acordo comprar umas bonecas que já tinham visto, para levar às manas que tinham ficado em casa, elas eram mais pequeninas, iriam gostar de ter as bonecas, e elas queriam dar-lhes essa alegria, elas tinham sido bem recebidas ali, não lhes faltava nada, e estavam felizes. Pensavam nas outras.

As bonecas eram diversas, havia-as de várias matérias, umas caras demais para as poucas moedas que tinham, outras pequenitas, de papelão, com um vestido mal feito, sem bainhas nem nada, eram pintadas de um rosa a fingir a pele, cor forte demais, os pés pintados de preto como se fossem sapatos, assim como o cabelo, pintado no papelão, os olhos a boca, e uns braços e pernas, que não eram flexíveis.

Mas eram umas bonecas feiinhas, era verdade, mas umas bonecas como elas nunca tinham tido, que apenas conheciam as de trapos feitas por elas, ou pela avó, e então aquelas eram sempre diferentes, e eram a prenda delas.
A festa estava ainda muito movimentada mas os tios tinham de voltar a casa, o trabalho esperava-os, e regressou-se assim a Atalaia e depois à Ponte do Celeiro, deram as bonecas uma à Lisete, outra à Graciete, e a felicidade delas foi grande ao vê-las.

Mas foram, as bonecas, sol de pouca dura na vida delas, como disse a avó Joaquina, logo a seguir, e na verdade poucos dias mais viram o sol nascer. Quando um dia vinham Dalila e Amália a chegar da escola, diz-lhes a avó de chofre: ‘as bonecas já morreram’. Pois foi isso mesmo, como elas eram moldadas em papelão e cola, Lisete e Graciete, acharam que elas estavam sujas e foram dar-lhes banho.

Nada mais natural, entre crianças e bonecas, o pior era a matéria-prima da confecção, ao colocarem as bonecas na água, ficaram completamente desfeitas, e elas também, choravam agora. Dalila e Amália ficaram tristes, mas nada mais havia a fazer, apenas esquecerem, depois, tinham as de trapo que se podiam lavar e secar ao sol e estavam sempre iguais.
CONTINUA NO PROXIMO CAPITULO

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