domingo, 31 de outubro de 2010

A TABERNA



16º CAPITULO

A TABERNA
A certa altura Deodato achou por bem arrendar uma taberna que já existia na beira da estrada, era junto do Chafariz do Cabeço de Almodelim, onde faziam uma paragem, da tal carreira do Vinagre.

Ali bem junto, despontava uma fonte de água nascente que corria de uma mina, de noite e dia, e aonde todos vinham buscar água, algumas mulheres com bilhas na cabeça, e desde um quilómetro de distância, outros em burros com cêrões, feitos de bunhos ou de vimes, ou ainda uns alforges grandes, onde se pudesse colocar uma quarta de cada lado, cheias de água.
Era principalmente aí onde todas as pessoas paravam para beber, ou da fonte, ou ainda, no caso dos apreciadores da taberna, ali mesmo ao lado.

Havia uma pia para onde a água passava sempre em corrente, era mais uma espécie de tanque pequeno. Naquela época já de pouco servia mas, quando há muitos anos foi criado, era para dar de beber aos animais, no percurso das suas viagens, fossem eles burros, cavalos bois ou machos, pois eram os animais que mais viajavam e em que se andava.
Do lado de baixo da estrada existia um grande tanque, onde algumas pessoas iam lavar a roupa, pagando um escudo por cada dia de lavagem.

CARNAVAL NA INFÂNCIA
Quando chegava o Carnaval, Dalila e Amália iam sempre para a Atalaia passar esses dias pois na Ponte do Celeiro não havia bailes, nem festas de Carnaval.
Assim, normalmente vinha o primo Alberto buscá-las na carroça, ele era um pouco mais velho mas era já muito exímio na condução do macho e da carroça. Depois, juntavam-se à prima Clarisse, e aos tios. Gostavam muito que elas fossem para lá, os primos eram quase todos da mesma idade.


O Carnaval de Atalaia era sempre rijo, bailes nos três dias, cegadas, e mascarados, os macholhos - que eram alguns homens, movimentando-se como simbolizando um grande animal, tapados com panos de serapilheira.
Esse macholho era organizado para se fazer as críticas sociais da terra, aproveitando assim o Carnaval! Alguém habilidoso escrevia os textos, normalmente em verso, outros eram apenas buchas metidas a gosto do que fazia de mestre, e que o dito ia apontando com a cabeça, ou apontando as vítimas, indo na sua direcção.

Já o ‘enterro do bacalhau’ que normalmente era feito por um grande grupo da Póvoa da Isenta e que por sua vez se deslocavam de terra em terra, era também de críticas sociais mas em grandes textos teatralizados, por mais de uma hora, e onde teria sempre de existir um Réu e um Juiz.
Deslocavam-se sempre para essas suas apresentações transportados por um tractor ou até numa camioneta, que lhes servia depois de palco para a sua representação, paravam no largo maior de cada terra, e assim se ajuntava todo o publico disponível para ver o seu trabalho.

Julieta fazia sempre um traje de Carnaval para as filhas - seria sempre o mesmo enquanto servisse - e normalmente era sempre de saia vermelha de flanela, bordada com lã. A de Dalila tinha até numa das vezes flores bordadas e barra preta, e a de Amália umas flores coloridas, e envergavam ainda blusa florida, lenço na cabeça e chapéu por cima, e aí ficavam elas todas vaidosas com as suas roupas de Carnaval.

Num desses Carnavais Deodato levou as coisas necessárias para uma adega da família, para poder assim fazer mais algum negócio nas noites de Carnaval, dado que ficava também perto da casa do baile.
Perto das quatro da manhã, quando voltaram para casa, na Ponte do Celeiro, ao chegarem à taberna que era do Deodato – pois era até lá que eles por vezes ficavam, tinham lá um quarto no sótão – constataram que tinham arrombado a porta, roubaram o que lhes dava jeito, e como decerto os ladrões sabiam onde eles estavam, banquetearam-se com todo o tempo, e à sua maneira.

Como era Carnaval Julieta tinha matado uma galinha, fê-la corada para o jantar, mas comeram pouco, estava a galinha quase inteira, e então os ladrões comeram a galinha e o acompanhamento, deixaram lá só os ossos e restos em cima da mesa.

CONTINUA NO PROXIMO CAPITULO

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