segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O PRIMEIRO PAI NATAL


20º CAPITULO








O PRIMEIRO PAI NATAL


Dalila estava muito feliz, a madrinha tinha escrito uma carta a convidá-la para ir passar o Natal a sua casa, era na cidade, e isso já era muito importante para ela, seria diferente passar o Natal na cidade e isso tinha-a deixado em euforia. O padrinho por estes tempos veio à terra, fazer umas compras, para vender num lugar de hortaliças que tinham na nos arredores de Lisboa.


Entre tudo o que levava ia também o “furgon” carregado de pinheiros que iriam vender na sua loja, para os clientes fazerem as árvores de Natal, porque ao tempo ainda se vendiam muitas árvores naturais, mais tarde é que passaria a ser o domínio das artificiais.


A viagem foi um pouco demorada, não havia auto estradas, foi sempre por estradas nacionais, e Dalila chegou muito enjoada, não estava habituada a fazer viagens longas.
Já na casa dos padrinhos apercebeu-se de que havia mais pessoas lá a viver para além dos padrinhos e do filho, estavam pois aí também a mãe da madrinha, e uma empregada, a Alda.
A sua integração na família foi sem problemas, já ia fazer doze anos, já podia também ajudar a fazer alguma coisa, numa casa como esta onde trabalho não faltava.


Ajudava já na limpeza da loja, na arrumação das montras de frutas e expositores de hortaliças, ou até ir à casa de algumas clientes para saber o que precisavam, para depois lhes levar a casa.
Primeiro ia com a Alda de forma a aprender os caminhos, as ruas, os andares, e em pouco tempo tudo estava decorado, passando a ir sozinha, o que gostava, dava-lhe prazer poder ajudar.


A madrinha, vendo talvez as poucas roupas que Dalila levava, resolveu chamar uma costureira lá a casa – uma que já era costume fazer-lhe uns trabalhos – e comprou uma fazenda quentinha aos rectângulos verde-garrafa e preto, para fazer um casaco comprido, que ficou muito bonito, tinha um macho nas costas que abria até ao fim do casaco, e uns bolsos. Dalila nunca havia tido um casaco bom e bonito como aquele, estava muito feliz.


Depois, tendo a madrinha também em casa um tecido que dava para um vestido, ficou ainda mais feliz, era um tecido de Verão, mas isso não era preocupação, mesmo assim Dalila não perdeu a oportunidade, até ficava bem com o casaco novo.
Era bege esse tecido, e com flores formando riscas, que foram trabalhadas em vários sentidos, ficou lindo o vestido, e Dalila nem perdeu a oportunidade de estrear o seu vestido de Verão, em pleno Inverno.
Entre as roupas que tinha levado para vestir na casa da madrinha, lembra-se de uma peça muito particular, era um corpete que a mãe lhe tinha feito, para aconchegar o peito que estava a crescer. A madrinha ficou admirada, na cidade já não se usava aquele tipo de vestuário, e então fizeram em tecido uns pequenos soutiens que ela passou a usar e que serviam de modelo para outros.


Aquele Natal seria em tudo especial na vida de Dalila, tudo era novo, brilhante, seria também um Natal diferente dos da sua casa, e numa época em que tudo estava a ser diferente.
O seu corpo estava em transformação, pois estava a ficar uma mulherzinha, e estava a ver e conhecer coisas completamente novas para ela.


Nas vésperas do Natal, a madrinha foi com Raul - o seu filho - Dalila e Alda, fazer compras no Braz & Braz ali na cidade, ali já se faziam compras de Natal, já se compravam prendas, e já havia um Pai Natal na porta do armazém.
Estava a receber os clientes e a fazer a festa com as crianças que iam lá só para o ver, como aconteceu com Dalila, aquele era o seu primeiro Pai Natal, nunca tinha visto outro até ali.
Foi também a primeira vez que Dalila viu luzes de Natal, já havia muitas casas de comércio com luzes e o Braz & Braz era já uma grande superfície da época, toda enfeitada.


Aquela festa de Natal e tudo o mais que lhe foi envolvente, Dalila viveu com grande alegria mas, apesar de todas as novidades, tudo se vive, tudo passa, menos as coisas que fazem a diferença e que marcam mais profundamente, e Dalila guardou essas vivências muito profundas, coisa que a marcou e nunca esqueceu.


Como seria normal e natural acontecer, os pinheiros que o padrinho tinha levado eram para vender antes do Natal e apenas sobrou um, todos os outros se venderam. No dia seguinte ao Natal, como acontecia todos os dias, o lugar de frutas foi aberto na hora habitual e, como já foi referido, tinha ficado apenas um pinheiro, o qual foi colocado na porta, do lado de fora, pela Dalila e a Alda - como tinha aliás acontecido com todos os outros que se foram vendendo - enquanto preparavam a abertura da loja.


A meio da manhã, quando Dalila estava por ali de vigia na loja, chega um rapazinho que teria talvez uns nove ou dez anos, trazia umas moedas na mão, queria comprar o último pinheiro, que estava encostado na porta. Mas para Dalila isso não tinha cabimento, não fazia sentido, quem é que ia comprar, no fim de ter passado o Natal, o pinheiro para fazer a árvore de Natal? E ela disse que não lhe podia vender o pinheiro.


A madrinha não estava ali no momento, mas Dalila como achava que nunca faria a árvore, depois do Natal, não a quis vender, mas ficou com muita pena de não poder oferecer aquele pinheiro, que acabaria por ir para o lixo. Oferecer, àquele menino, que possivelmente nem aquelas moedas tinha, antes do Natal, para o comprar, e que queria mesmo assim a sua árvore, já depois do Natal.


Ele foi-se embora triste, Dalila ficou também triste por não lhe poder oferecer o pinheiro, que não era dela, era dos padrinhos. Nunca mais viu a outra criança, mas também nunca mais a esqueceu.
*
Em Janeiro Dalila fez os doze anos, a madrinha fez um bolo de aniversário, fizeram uma festa e ofereceram-lhe um relógio de pulso. Ela não esperava aquela surpresa, ficou muito feliz e muito vaidosa, com o seu relógio, com o seu vestido e o seu casaco, agora já não era a mesma menina que tinha chegado da província.


Dalila gostava mesmo de ir a casa das clientes levar as encomendas ou perguntar se queriam alguma coisa. Numa dessas entregas havia a senhora do Sr. Major, que era uma senhora muito fina, e não tinha filhos.
Ela fazia-lhe muitas perguntas e um dia mandou-a entrar para lhe mostrar o seu presépio, a sua árvore de Natal, era tudo tão bonito que Dalila ficou encantada, tudo na casa era lindo.


Era essa senhora principalmente que lhe dava sempre vinte e cinco tostões aquando das entregas, que ela ia juntando com mais alguns tostões das outras senhoras, e o seu destino era a pastelaria vizinha. Alda havia-lhe ensinado o caminho, e deu-lhe a conhecer os pastéis de nata, que Dalila gostou tanto que todos os seus tostões eram agora para os pastéis de nata. Mas ela não tinha dito nada à madrinha, pensou que poderiam ralhar com ela, por ir comer os pastéis, mas mesmo assim o pior aconteceu, o dono do café contou à madrinha.


Ela quis logo saber onde ia arranjar o dinheiro, Dalila disse-lhe que eram as clientes que lhe davam, mas achou que ela não acreditou, porque a Alda também comprava e a madrinha achava que ela lhe tirava o dinheiro da gaveta.
Dalila não gostou que duvidassem dela, ficou magoada e começou a desejar voltar para casa, até porque já começava a sentir saudades da mãe, da avó e das irmãzinhas, mas tinha de esperar que o padrinho pudesse vir á terra para a trazer.


Um dia a esposa do senhor Major perguntou-lhe porque tinha um dente partido e já estragado na frente, e Dalila contou-lhe que tinha sido uma colega da escola, a Maria Ludemira, que lhe havia batido com a mala da escola. Então a Senhora ofereceu-lhe uma escova para ela lavar os dentes, mas não ofereceu a pasta, e Dalila não tinha nada mais, tinha só a escova, mas mesmo assim ficou muito contente e agradecida.


CONTINUA NO PROXIMO CAPITULO

2 comentários:

Maria Rodrigues disse...

Amiga vim agradecer a sua gentil mensagem de parabéns deixada no meu humilde cantinho. Continuação de Boas Festas.
Beijinhos
Maria

Lídia disse...

OBRIGADO AMIGA MARIA
PELA VISITA TAMBÉM NO MEU ESPAÇO.

1 BEIJO E VOLTE SEMPRE

LÍDIA