3º CAPITULO
A CASA DA FAMÍLIA
A casa da Fazenda ficava num sítio mais plano a meio da encosta, e a circundar a envolvência da casa já havia flores plantadas antes, o que criava uma envolvência bonita - eram roseiras, lírios, estrelas do meio-dia, e os malmequeres, que eram os grandes reis do jardim.
Plantados em plano mais alto, os malmequeres caíam em cachoeira de flores brancas pelo valado e, sendo em grande abundância, davam um enquadramento lindo para uma casa pobre, baixa, e sem atractivos, apenas com estes alegretes de flores por moldura.
Percorrendo por dentro a casa, via-se que era uma construção única embora dividida em duas. Na parte da avó Joaquina avultava uma cozinha muito grande, a toda a largura da casa, tinha uma chaminé enorme ao fundo, com uma fornalha na frente da boca do forno e um espaço para um banquito de cada lado, onde as netas se sentavam para se aquecerem no Inverno.
Ao lado da chaminé havia um poial para pôr a quarta da água, que servia para os gastos da cozinha.
O resto do mobiliário era uma louceira e uma grade, onde se compunham as louças para serviço, que eram poucas, e havia também dependurado um guarda-comidas. Era assim lhe chamavam, a um armário pequeno e quadrado, com uma rede mosquiteira à volta, e com uma porta fechada, para não entrarem gatos ou moscas – que abundavam – e como não havia frigoríficos era onde se guardavam os condutos.
Na cozinha fazia ainda parte da mobília uma mesa pequena, rectangular, e umas três ou quatro cadeiras, e ainda esses banquitos toscos onde as netas se sentavam.
Contava-se ainda um quarto que era do avô Zé Franquinho e onde a avó só entrava para fazer a cama, depois a casa da costura, onde estava a cama da avó e a sua máquina de costurar, para além de uma mesa onde ela cortava as costuras, e uma arca pequena onde guardava as roupas.
A avó trabalhava de costura para as clientes da terra, que ali mandavam fazer roupa nova ou ainda arranjos, como pôr meias-costas nas camisas, ou os colarinhos - era o que se rompia mais - ou ainda as meias folhas dianteiras nas calças, assim como as bainhas e ainda os fundilhos, tudo isso se fazia para gastar menos dinheiro nos tecidos.
Era aí que a avó trabalhava, que comia, quase sempre em cima da máquina de costura, ou até, na hora da sesta, lá deitava ela a cabeça para descansar.
Na cama à noite, a avó Joaquina dormia quase sempre com uma das netas, o quarto principal era só do avô, e Dalila nunca se lembra de que os avós dormissem juntos.
As casas da avó eram de terra batida, e quando faziam limpeza também lavava o chão de terra, com água e um barro vermelho desfeito, para lhes dar outra cor, ou ainda com um pó vermelho a que chamavam almagra, se havia dinheiro para o comprar.
Já a casa de Julieta, com outra porta de entrada e que ficava logo ao lado, era um pouco diferente: o quarto e a sala já eram de cimento e os tectos eram forrados a madeira.
Existia uma sala de jantar, onde nunca ninguém jantava, com uma mesa e cadeiras, mais dois aparadores. Colocada na mesa havia uma toalha, e naperons jaziam nos aparadores, naperons cremes e todos bordados, com cestas de flores, alegres, de todas as cores, que Dalila adorava, e que tinha a mãe bordado para o seu enxoval.
O quarto de casal, com uma cama cómoda e mesa-de-cabeceira, tudo estava aí mobilado com as mobílias que os pais dela lhe tinham dado aquando do casamento.
Ao descer dois degraus era outro quarto, o da pequenada, tinha apenas uma cama de ferro grande com uma trancinha e um florão, tudo pintado de verde, e um colchão feito pela mãe, e cheio de ‘ex-camisas’ (invólucros de maçarocas) de milho, desfiadas - como se dizia na terra.
Esta palha que enchia os colchões era então as ‘ex-camisas’ desfiadas, apenas a palha que envolvia as espigas de milho, que uma vez retiradas e secas eram rasgadas em tiras, e enchia-se assim os colchões, as cabeceiras e travesseiros, isto se a lã das ovelhas não chegava para os travesseiros.
Nestes colchões podia-se modelar o sitio onde se deitavam, o enchimento era fofo e faziam uma cova no meio, ou onde se deitavam, e normalmente Julieta fazia essa inclinação para o meio, evitando assim que as filhas ao se voltarem resvalassem e caíssem ao chão, o que por vezes acontecia.
Depois para que não se destapassem pregava os cobertores com alfinetes de dama nas noites frias de Inverno em que fazia muito frio.
Existia ainda um lagar onde se fazia o vinho, havendo aí uma chaminé e uma mesa de cozinha que só servia quando Julieta não fazia o comer junto com a mãe, o que acontecia poucas vezes.
Era nesse lagar que se fazia o vinho todo que se criava na vinha, ou só uma parte – ali para a casa - se o pai vendia o resto das uvas, ou as transportava para Atalaia e fazia lá o vinho, noutra adega da família que era dos avós paterno.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPITULO
AUTORA LÍDIA FRADE
O MESMO LOCAL.... UMA NOVA ENTRADA EMBELEZADA, NO LOCAL DA AGORA VIVENDA DE DOIS PISOS, ERA.... A CASA DA FAMÍLIA!!!
A CASA DA FAMÍLIA
A casa da Fazenda ficava num sítio mais plano a meio da encosta, e a circundar a envolvência da casa já havia flores plantadas antes, o que criava uma envolvência bonita - eram roseiras, lírios, estrelas do meio-dia, e os malmequeres, que eram os grandes reis do jardim.
Plantados em plano mais alto, os malmequeres caíam em cachoeira de flores brancas pelo valado e, sendo em grande abundância, davam um enquadramento lindo para uma casa pobre, baixa, e sem atractivos, apenas com estes alegretes de flores por moldura.
Percorrendo por dentro a casa, via-se que era uma construção única embora dividida em duas. Na parte da avó Joaquina avultava uma cozinha muito grande, a toda a largura da casa, tinha uma chaminé enorme ao fundo, com uma fornalha na frente da boca do forno e um espaço para um banquito de cada lado, onde as netas se sentavam para se aquecerem no Inverno.
Ao lado da chaminé havia um poial para pôr a quarta da água, que servia para os gastos da cozinha.
O resto do mobiliário era uma louceira e uma grade, onde se compunham as louças para serviço, que eram poucas, e havia também dependurado um guarda-comidas. Era assim lhe chamavam, a um armário pequeno e quadrado, com uma rede mosquiteira à volta, e com uma porta fechada, para não entrarem gatos ou moscas – que abundavam – e como não havia frigoríficos era onde se guardavam os condutos.
Na cozinha fazia ainda parte da mobília uma mesa pequena, rectangular, e umas três ou quatro cadeiras, e ainda esses banquitos toscos onde as netas se sentavam.
Contava-se ainda um quarto que era do avô Zé Franquinho e onde a avó só entrava para fazer a cama, depois a casa da costura, onde estava a cama da avó e a sua máquina de costurar, para além de uma mesa onde ela cortava as costuras, e uma arca pequena onde guardava as roupas.
A avó trabalhava de costura para as clientes da terra, que ali mandavam fazer roupa nova ou ainda arranjos, como pôr meias-costas nas camisas, ou os colarinhos - era o que se rompia mais - ou ainda as meias folhas dianteiras nas calças, assim como as bainhas e ainda os fundilhos, tudo isso se fazia para gastar menos dinheiro nos tecidos.
Era aí que a avó trabalhava, que comia, quase sempre em cima da máquina de costura, ou até, na hora da sesta, lá deitava ela a cabeça para descansar.
Na cama à noite, a avó Joaquina dormia quase sempre com uma das netas, o quarto principal era só do avô, e Dalila nunca se lembra de que os avós dormissem juntos.
As casas da avó eram de terra batida, e quando faziam limpeza também lavava o chão de terra, com água e um barro vermelho desfeito, para lhes dar outra cor, ou ainda com um pó vermelho a que chamavam almagra, se havia dinheiro para o comprar.
Já a casa de Julieta, com outra porta de entrada e que ficava logo ao lado, era um pouco diferente: o quarto e a sala já eram de cimento e os tectos eram forrados a madeira.
Existia uma sala de jantar, onde nunca ninguém jantava, com uma mesa e cadeiras, mais dois aparadores. Colocada na mesa havia uma toalha, e naperons jaziam nos aparadores, naperons cremes e todos bordados, com cestas de flores, alegres, de todas as cores, que Dalila adorava, e que tinha a mãe bordado para o seu enxoval.
O quarto de casal, com uma cama cómoda e mesa-de-cabeceira, tudo estava aí mobilado com as mobílias que os pais dela lhe tinham dado aquando do casamento.
Ao descer dois degraus era outro quarto, o da pequenada, tinha apenas uma cama de ferro grande com uma trancinha e um florão, tudo pintado de verde, e um colchão feito pela mãe, e cheio de ‘ex-camisas’ (invólucros de maçarocas) de milho, desfiadas - como se dizia na terra.
Esta palha que enchia os colchões era então as ‘ex-camisas’ desfiadas, apenas a palha que envolvia as espigas de milho, que uma vez retiradas e secas eram rasgadas em tiras, e enchia-se assim os colchões, as cabeceiras e travesseiros, isto se a lã das ovelhas não chegava para os travesseiros.
Nestes colchões podia-se modelar o sitio onde se deitavam, o enchimento era fofo e faziam uma cova no meio, ou onde se deitavam, e normalmente Julieta fazia essa inclinação para o meio, evitando assim que as filhas ao se voltarem resvalassem e caíssem ao chão, o que por vezes acontecia.
Depois para que não se destapassem pregava os cobertores com alfinetes de dama nas noites frias de Inverno em que fazia muito frio.
Existia ainda um lagar onde se fazia o vinho, havendo aí uma chaminé e uma mesa de cozinha que só servia quando Julieta não fazia o comer junto com a mãe, o que acontecia poucas vezes.
Era nesse lagar que se fazia o vinho todo que se criava na vinha, ou só uma parte – ali para a casa - se o pai vendia o resto das uvas, ou as transportava para Atalaia e fazia lá o vinho, noutra adega da família que era dos avós paterno.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPITULO
AUTORA LÍDIA FRADE
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