quinta-feira, 14 de abril de 2011

A TIA JULIA... E A PREPARAÇÃO DO NATAL!!!

25º CAPITULO





A TIA JÚLIA
Julieta tinha uma tia a viver em Lisboa, era a tia Júlia, irmã do avô Zé. Todos pensavam que era a tia rica da família, e que no extremo contrário estava ela, Julieta e a sua família sendo as mais pobres.
Quando, em algumas situações difíceis de resolver, era a essa tia que recorriam, pedindo alguma coisa, para superar assim as sua aflições, pelo menos fora assim em tempos já passados.
Mas naquele ano não era esse o caso, elas tinham uma casa pequena e pobre mas, tinham também um grande pomar de laranjeiras e tangerineiras, e Julieta lembrou-se de mandar uma alcofa de hortaliças, laranjas e tangerinas à tia Júlia, porque tinham fartura.
Ao lembrar-se desse agrado, fazia também lembrar que continuava ali e com cinco filhas para criar, escreveu a carta de Natal desejando Boas Festas e dizendo para irem levantar a alcofa à garagem do Claras.
Como a tia Júlia era uma senhora viúva - havia largos anos que vivia sozinha, o seu filho vivia longe dela - ao agradecer a lembrança lembrou-se disso também, das coisas que seriam demais para ela, não deixando de mandar na carta trezentos escudos para Julieta comprar roupas para as miúdas.
E com certeza, também, encontrou com quem dividir as frutas e hortaliças, com alguém que comesse mais do que ela, e assim continuava a fazer outra boa acção, pelo seu lado, com espírito de Natal.
Com os trezentos escudos, Dalila e a mãe foram a Santarém comprarem tecidos e lãs de várias cores, com aquele dinheiro já compravam muita coisa. Elas, quando trabalhavam, só ganhavam dezoito escudos por dia, chegava para comer mas, para comprar roupas, já era mais difícil.

PREPARAÇÃO DO NATAL
Dalila ia fazer em Janeiro catorze anos, já tinha andado uns meses a aprender costura, para além do que já tinha aprendido com a avó Joaquina que havia sido costureira na aldeia.
Mas a avó naquela altura já só fazia alguma coisa para a casa, como as rendas para todos os lençóis, mesmo com carrinhos de linhas da costura, porque era da mais barata e era uma maneira de estar entretida.
Julieta também sabia de costura, e todas sabiam tricotar para fazerem os casacos e camisolas novas, assim como as saias e vestidos, estes, com os tecidos comprados, e estavam pois todas felizes por irem fazer roupas novas.
Os casacos foram escolhidos, os modelos, muito simples, eram tricotados à mão com dois fios de lã de duas cores diferentes, mas trabalhadas juntas, e faziam assim um efeito de trabalho mesclado muito engraçado. Os vestidos ou saias para as irmãs mais pequenas eram rodados, com franzidos, pregas, ou machos.
Mas para Dalila, como já se considerava uma grande mulher, e já tinha os seus pretendentes a namorados, já ia ao baile e já tinha pares para dançar toda a noite, resolveu fazer uma saia justa, de fazenda rosa-velho, e fez ainda uma camisola em amarelo-torrado, toda tricotada por ela, para vestir com essa saia.
Tinham de trabalhar rapidamente, ‘o Natal estava à porta’, como se costumava dizer na aldeia, o que significava faltarem poucos dias, o tempo estava péssimo, muito frio, muito nevoeiro cerrado, mas era o tempo de apanhar a azeitona, e não se podia deixar ela estragar-se, assim fosse qual fosse o tempo o trabalho continuava, só se chovesse a potes é que iam para casa, já todas molhadas, como os pintainhos desabrigados.
Por isso, o tempo para as costuras ou malhas era reduzido, e muitas vezes só feito de noite ao serão e, como não havia televisão nem mais nada com que se entretivessem, faziam malhas, rendas e bordados, ao som da rádio, com os folhetins da Emissora Nacional.
Todas as pessoas faziam um pouco de serão à lareira ou braseira, para não irem muito cedo dormir, e a noite não parecer, assim, tão grande. De noite se faziam então as costuras, malhas, e até os enxovais completos.
Era por isso que, em vésperas do Natal, os casacos e camisolas que tinham sido tricotados nesse ambiente de fumo, no fim de feitos tinham de ser lavados. Assim se fez: ninguém podia ir estrear um casaco novo em dia de Natal, a cheirar a fumo, ou amarelo do mesmo, para ir à missa.
Como não havia máquinas de lavar e secar roupa, também não tinham alternativa, secar em casa era o mesmo que não ter lavado, e então tinha de se pendurar a roupa para secar pelos arames de estender que ficavam na rua. Ainda que se pendurassem debaixo de um alpendre, que os havia na saída da porta da cozinha, com aquela situação atmosférica era o mesmo que na rua.
Não se sabe quantos graus de temperatura estariam, nem era de certeza preocupação saber. Em suma, dois dias antes do dia de Natal as malhas foram lavadas e estendidas, passaram as primeiras vinte e quatro horas, e continuavam, precisamente na mesma, encharcados, ou talvez pior.

continua no proximo capitulo

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