21º CAPITULO
A APANHA DA AZEITONA
Deodato andava sempre por longe em algum lado a trabalhar de pedreiro, a avó dizia até que ‘ele vinha só a casa para fazer filhos e quando estava aleijado sem poder trabalhar’, e na verdade, nessa época, era muito um pai ausente.
Em dada altura, Deodato tinha levado Julieta para um lugar comercial de frutas que tinha metido na cabeça abrir em Santarém. Certo dia voltou a casa com um homem. Disse ser um jornalista que estava sem trabalho e que veio de Lisboa com intenção de trabalhar na azeitona, e seria Deodato a oferecer esse trabalho visto ter azeitona para apanhar. Isto foi em 1961, Dalila ia fazer treze anos.
O rancho da azeitona era só a avó Joaquina, Dalila, e o tal homem. O homem não sabia como varejar a azeitona para ela cair no chão em cima dos panos de saca, coitado, era trabalho que nunca tinha feito, mas Dalila ensinou-o apresentou-lhe as varas, os varejões, para chegar aos sítios mais altos.
Subiam os dois para cima das oliveiras enormes, aprendeu a colocar-se nos sítios seguros, equilibrados, para poderem bater com as varas nos ramos e fazer cair a azeitona no chão, não bem no chão mas em cima de uns panos feitos de sacas de serapilheira, abertas, e cosidas umas nas outras.
Todo este trabalho necessitava de um grande equilíbrio, pois tinham de bater com as duas mãos a segurar a vara, e com força, para o trabalho resultar. Assim se apanhava muito mais azeitona de uma só vez, depois, era só retirar e limpar dos ramos caídos no varejar, e ensacar para ir directa ao lagar de azeite e aí ser transformada.
Podia ainda vender-se aos donos dos lagares, ou ali, directamente: era normal andarem homens com carroças a gritar “azeitona”, andavam a comprar porta a porta, era uma maneira de qualquer pessoa com um saquito de azeitona transformá-lo logo em dinheiro para alguma necessidade.
O JORNALISTA
O jornalista era uma pessoa de outros hábitos, outra alimentação, próprios da cidade. Ele tinha caído ali com a promessa de abrigo, alimentação e, possivelmente, algum dinheiro.
Não falando do trabalho, a alimentação devia ser um tormento para ele, a avó Joaquina é que fazia a comida mas, coitada, fazia o que tinha e podia, elas já estavam habituadas a comer o que era possível arranjar mas, para o homem, era difícil, e Deodato não se preocupava com isso.
Certo dia a avó Joaquina só tinha arroz e abóbora para fazer o almoço, fritou umas petingas, e foi o almoço que apresentou para o homem comer. Era o mesmo que elas comiam e, como não havia mais nada, ele teve de comer, mas, coitado, na parte da tarde andavam a bater nas oliveiras, e disse ele para Dalila: “não tenho força para bater nas oliveiras, a abóbora foge para a barriga das pernas, não me dá força nos braços”.
Dalila achou graça àquele comentário, mas também ficou impressionada, e com a sua pouca idade pensou: “o que poderia estar para trás na vida daquele homem? - para estar ali, naquela situação, a viver e passar tudo o que estava a acontecer, e se sujeitava àquele trabalho, àquela comida”.
Outra coisa impressionava Dalila, ele tinha vindo vestido com roupas boas, trajes que usava na cidade, não muito próprias para andar na apanha da azeitona, mas subia para cima das oliveiras vestido com o seu sobretudo, e isso porque fazia frio. Contudo era assim vestido que trabalhava, mas não foi por muito tempo. Logo que Deodato apareceu por lá na fazenda, falou com ele, o homem deve ter recebido algum dinheiro e foi-se embora, Dalila nunca mais ouviu falar dele mas sempre lembrou muito o acontecido.
*
Foi por esse tempo que a fazenda já estava praticamente com os dias contados, pelo menos na posse da família. As decisões foram tomadas, Deodato resolveu vender aquela fazenda, não havia nada a fazer, apenas aceitar as suas decisões, e assim acabava para todo o sempre, o contacto de Dalila com a fazenda, ONDE VIU A LUZ DO MUNDO.
PELO MEU OLHAR
Penetro o meu olhar
Pela noite branca
Ou em camadas suspensas
De, atmosferas nebulosas
Banhadas, pelo luar.
Num ecrã,
Uma, casinha branquinha,
baixinha,
Entre montes abrigada,
Entre, nascentes cantadas,
De, imagens filtradas,
De, lembranças guardadas
Rebuscadas,
Pelo meu olhar,
Ou pela minha capacidade,
de sonhar.
Acordo, abro os olhos
ao dia que nasce, ao sol,
que na minha janela
já sorri para mim!
Revejo o invisível,
até na distância!
A minha casinha branquinha,
Baixinha,
Entre montes abrigada,
entre nascentes cantada,
recatada, encantada
e, guardada,
Pela minha capacidade
De sonhar.
A APANHA DA AZEITONA
Deodato andava sempre por longe em algum lado a trabalhar de pedreiro, a avó dizia até que ‘ele vinha só a casa para fazer filhos e quando estava aleijado sem poder trabalhar’, e na verdade, nessa época, era muito um pai ausente.
Em dada altura, Deodato tinha levado Julieta para um lugar comercial de frutas que tinha metido na cabeça abrir em Santarém. Certo dia voltou a casa com um homem. Disse ser um jornalista que estava sem trabalho e que veio de Lisboa com intenção de trabalhar na azeitona, e seria Deodato a oferecer esse trabalho visto ter azeitona para apanhar. Isto foi em 1961, Dalila ia fazer treze anos.
O rancho da azeitona era só a avó Joaquina, Dalila, e o tal homem. O homem não sabia como varejar a azeitona para ela cair no chão em cima dos panos de saca, coitado, era trabalho que nunca tinha feito, mas Dalila ensinou-o apresentou-lhe as varas, os varejões, para chegar aos sítios mais altos.
Subiam os dois para cima das oliveiras enormes, aprendeu a colocar-se nos sítios seguros, equilibrados, para poderem bater com as varas nos ramos e fazer cair a azeitona no chão, não bem no chão mas em cima de uns panos feitos de sacas de serapilheira, abertas, e cosidas umas nas outras.
Todo este trabalho necessitava de um grande equilíbrio, pois tinham de bater com as duas mãos a segurar a vara, e com força, para o trabalho resultar. Assim se apanhava muito mais azeitona de uma só vez, depois, era só retirar e limpar dos ramos caídos no varejar, e ensacar para ir directa ao lagar de azeite e aí ser transformada.
Podia ainda vender-se aos donos dos lagares, ou ali, directamente: era normal andarem homens com carroças a gritar “azeitona”, andavam a comprar porta a porta, era uma maneira de qualquer pessoa com um saquito de azeitona transformá-lo logo em dinheiro para alguma necessidade.
O JORNALISTA
O jornalista era uma pessoa de outros hábitos, outra alimentação, próprios da cidade. Ele tinha caído ali com a promessa de abrigo, alimentação e, possivelmente, algum dinheiro.
Não falando do trabalho, a alimentação devia ser um tormento para ele, a avó Joaquina é que fazia a comida mas, coitada, fazia o que tinha e podia, elas já estavam habituadas a comer o que era possível arranjar mas, para o homem, era difícil, e Deodato não se preocupava com isso.
Certo dia a avó Joaquina só tinha arroz e abóbora para fazer o almoço, fritou umas petingas, e foi o almoço que apresentou para o homem comer. Era o mesmo que elas comiam e, como não havia mais nada, ele teve de comer, mas, coitado, na parte da tarde andavam a bater nas oliveiras, e disse ele para Dalila: “não tenho força para bater nas oliveiras, a abóbora foge para a barriga das pernas, não me dá força nos braços”.
Dalila achou graça àquele comentário, mas também ficou impressionada, e com a sua pouca idade pensou: “o que poderia estar para trás na vida daquele homem? - para estar ali, naquela situação, a viver e passar tudo o que estava a acontecer, e se sujeitava àquele trabalho, àquela comida”.
Outra coisa impressionava Dalila, ele tinha vindo vestido com roupas boas, trajes que usava na cidade, não muito próprias para andar na apanha da azeitona, mas subia para cima das oliveiras vestido com o seu sobretudo, e isso porque fazia frio. Contudo era assim vestido que trabalhava, mas não foi por muito tempo. Logo que Deodato apareceu por lá na fazenda, falou com ele, o homem deve ter recebido algum dinheiro e foi-se embora, Dalila nunca mais ouviu falar dele mas sempre lembrou muito o acontecido.
*
Foi por esse tempo que a fazenda já estava praticamente com os dias contados, pelo menos na posse da família. As decisões foram tomadas, Deodato resolveu vender aquela fazenda, não havia nada a fazer, apenas aceitar as suas decisões, e assim acabava para todo o sempre, o contacto de Dalila com a fazenda, ONDE VIU A LUZ DO MUNDO.
PELO MEU OLHAR
Penetro o meu olhar
Pela noite branca
Ou em camadas suspensas
De, atmosferas nebulosas
Banhadas, pelo luar.
Num ecrã,
Uma, casinha branquinha,
baixinha,
Entre montes abrigada,
Entre, nascentes cantadas,
De, imagens filtradas,
De, lembranças guardadas
Rebuscadas,
Pelo meu olhar,
Ou pela minha capacidade,
de sonhar.
Acordo, abro os olhos
ao dia que nasce, ao sol,
que na minha janela
já sorri para mim!
Revejo o invisível,
até na distância!
A minha casinha branquinha,
Baixinha,
Entre montes abrigada,
entre nascentes cantada,
recatada, encantada
e, guardada,
Pela minha capacidade
De sonhar.
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